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COMPORTAMENTO

É descoberta espécie de pássaro que faz o gestos gentis e educados quando chega ao ninho acompanhado

Antes, acreditava-se que apenas humanos e primatas fossem capazes de realizar gestos mais avançados

25 de março de 2024
Júlia Zanluchi
4 min. de leitura
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Foto: Charles Lam | Wikimedia Commons

Uma espécie de pequeno pássaro, o chapim japonês (Parus minor), usa movimentos das asas como gesto para transmitir a mensagem “você primeiro” enquanto outro passa, de acordo com uma nova pesquisa na Universidade de Tóquio, no Japão, publicada na revista Current Biology.

Quando um par de acasalamento chega à sua caixa de ninho com comida, eles esperam do lado de fora em poleiros. Um deles frequentemente agita suas asas em direção ao outro, aparentemente indicando para este último entrar primeiro. Os pesquisadores dizem que essa descoberta desafia a crença anterior de que a comunicação gestual é proeminente apenas em humanos e grandes primatas, avançando significativamente nossa compreensão da comunicação visual em aves.

Um polegar para cima, acenando adeus ou apontando para um livro em uma prateleira. Esses gestos e muitos outros são parte integrante de como nos comunicamos. Tais gestos costumavam ser considerados usados exclusivamente por humanos, até observações mais detalhadas de grandes primatas, como chimpanzés e bonobos, revelarem que eles também movem seus corpos para se comunicar não verbalmente.

Nos últimos anos, estudos sobre outros animais, como corvos e peixes, mostraram que eles também usam alguns gestos simples para, por exemplo, apontar objetos ou mostrar algo de interesse, chamado gestos deícticos. No entanto, gestos simbólicos, como mostrar a mão aberta para sinalizar que o outro pode passar, exigem habilidades cognitivas complexas, e não havia evidências conclusivas apoiando a existência de tais habilidades em animais além dos humanos.

Pesquisadores da Universidade de Tóquio ficaram surpresos ao encontrar evidências claras do uso de gestos simbólicos por um pequeno pássaro selvagem, o chapim japonês. “Em nossa última descoberta, revelamos que o chapim japonês usa gestos para se comunicar com seu parceiro”, disse o professor Toshitaka Suzuki. “Por mais de 17 anos, tenho estudado esses pássaros fascinantes. Eles não apenas usam chamados específicos para transmitir significados particulares, mas também combinam diferentes chamados em frases usando regras sintáticas. Essas diversas vocalizações me levaram a iniciar esta pesquisa sobre seu potencial uso de gestos físicos.”

Na primavera, os chapins japoneses formam pares de acasalamento e constroem seus ninhos dentro de uma cavidade de árvore com uma pequena entrada. Suzuki e o co-autor, Norimasa Sugita, também da Universidade de Tóquio, observaram o comportamento de 16 pássaros pais (oito pares) que se reproduziam em caixas de ninho.

Ao alimentarem seus filhotes, os pássaros entram no ninho um de cada vez. Os pesquisadores notaram que ao transportar comida de volta para o ninho, os pássaros frequentemente encontravam um poleiro próximo primeiro e então um deles agitava suas asas em direção ao outro.

Analisando mais de 320 visitas ao ninho em detalhes, os pesquisadores viram que a exibição de agitação das asas fazia com que o parceiro que estava sendo agitado entrasse na caixa de ninho primeiro, enquanto o que agitava entrava em segundo lugar, determinando a ordem de entrada no ninho e espelhando o gesto “você primeiro” observado na comunicação humana.

“Ficamos surpresos ao descobrir que os resultados foram muito mais claros do que esperávamos. Observamos que os chapins japoneses agitam suas asas exclusivamente na presença de seu parceiro e, ao testemunhar esse comportamento, o parceiro quase sempre entra na caixa de ninho primeiro”, explicou Suzuki.

O gesto era realizado com mais frequência pelas aves fêmeas, após o que o macho geralmente entrava na caixa de ninho, independentemente de quem tivesse chegado primeiro. Se a fêmea não agitasse as asas, então ela geralmente entrava na caixa de ninho antes do macho.

Os pesquisadores acreditam que esse comportamento preenche os critérios para ser classificado como um gesto simbólico porque ocorria apenas na presença de um parceiro, parava depois que o parceiro entrava na caixa de ninho e incentivava o parceiro a entrar na caixa de ninho sem nenhum contato físico. Eles também observaram que o gesto de agitar as asas era direcionado ao parceiro e não à caixa de ninho, o que significa que não estava sendo usado como um gesto deíctico para indicar a posição de algo de interesse.

“Há uma hipótese de que andar sobre duas pernas permitiu aos humanos manter uma postura ereta, liberando suas mãos para uma maior mobilidade, o que por sua vez contribuiu para a evolução dos gestos. Da mesma forma, quando os pássaros se empoleiram em galhos, suas asas ficam livres, o que pensamos que pode facilitar o desenvolvimento da comunicação gestual”, disse Suzuki.

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