Dois lavradores, mãe e filho, foram levados a uma delegacia em Arujá por tráfico de animais. Tentavam levar ao Rio de Janeiro 410 filhotes de curió divididos em dez caixotes, dentro de quatro malas. Os pássaros já estavam nesse martírio há bastante tempo, visto que vieram do Maranhão nas mesmas caixas, dentro das mesmas malas, e seriam vendidos a oito reais cada.
Além dos filhotes, mais ninguém ficou preso. Apesar de outra passagem à polícia pelo mesmo crime, a qual transferiu a pena a trabalhos comunitários, os traficantes apenas serão intimados a depor.
Casos como esse são muito comuns no Brasil, país que desponta em quarto lugar no triste ranking dos maiores traficantes de animais, atrás da Malásia, Índia e Indonésia. Ambos abastecem prioritariamente a Europa.
Segundo o Ibama, cerca de 5 milhões de animais são enviados ilegalmente ao exterior todos os anos. Esse número se torna ainda mais absurdo quando levamos em conta que, entre dez animais capturados, nove morrem ao serem transportados.
Em qualquer lugar é muito fácil comprar um animal decorrente de tráfico. Há feiras clandestinas espalhadas em praticamente todas as capitais. Nelas, os animais são dopados com cachaça ou gardenal – remédio altamente forte, usado para tratamento de epilepsias – para ficarem quietos enquanto são comercializados.
A lei é falha. A fiscalização é fraca. O Ibama tem, hoje, 1.100 fiscais. Destes, apenas 300 atuam na fiscalização efetiva do tráfico de animais em todo o país. Em alguns lugares cruciais como Manaus, só há fiscais durante o horário comercial.
Infelizmente, nesse caso também se aplica a lei da demanda e da oferta. Há quem queira e pague, há quem capture e venda. Com certeza você conhece alguém que tem um papagaio, um pássaro exótico ou algum animal “diferente” no quintal.
E não pára por aí. Existe a biopirataria. Além da flora e de tantas riquezas vegetais da Amazônia, também são exportados animais peçonhentos e anfíbios para pesquisas científicas e farmacêuticas.
É muito triste se aprofundar mais sobre essa atitude incompreensível do ser humano. Somos tão pobres de espírito e tão pequenos perante os outros seres vivos, que conseguimos sentir felicidade em ter um animal preso em uma gaiola para nossa banal observação.
Nota: mais informações sobre tráfico de animais podem ser lidas nos artigos da colunista Renata Martins.