Em uma noite quente na costa oeste do Sri Lanka, a praia de Mount Lavinia, nos arredores de Colombo, fervilha de atividade. Um grupo de jovens voluntários, identificados por seus coletes laranja, está agachado em um círculo, cavando a areia na semi-escuridão. Eles estão em busca de ninhos de tartarugas, uma tarefa que exige paciência e habilidades de detetive.
Esses voluntários fazem parte do Pearl Protectors, um grupo ambientalista local que patrulha a praia entre 21h30 e 2h, procurando por rastros de tartarugas para localizar seus ninhos. “Às vezes, precisamos cavar buracos na praia para encontrar os ovos”, explica Vikasitha Liyanage, uma das voluntárias.
A coleta ilegal de ovos de tartaruga, uma prática antiga entre as comunidades costeiras, ainda é uma ameaça significativa. Porém, o crescimento da cidade e o desenvolvimento turístico ao longo da costa aumentaram os desafios para a reprodução das tartarugas. Festas, música alta e a poluição com lixo plástico e químico interferem no processo de nidificação, que ocorre entre novembro e abril.
Upul Priyantha Kumara, gerente de restaurante na região, relata ter presenciado uma tartaruga que, ao ser incomodada por crianças durante uma festa de aniversário, foi forçada a retornar ao mar sem conseguir depositar seus ovos.
Consciente dessas dificuldades, Muditha Katuwawala, coordenador do Pearl Protectors, ampliou as atividades do grupo para incluir patrulhas regulares em colaboração com a guarda costeira. Os voluntários identificam os ninhos em áreas de risco e transferem os ovos para locais mais seguros até que estejam prontos para eclodir. Após o nascimento, os filhotes são acompanhados durante sua jornada até o mar, que geralmente acontece à noite.
No entanto, o trabalho do Pearl Protectors não é sempre bem recebido. Alguns moradores se opõem às atividades do grupo, e os voluntários já enfrentaram situações de risco, como relata Rose Fernando, outra voluntária: “No ano passado, encontramos moradores agitados com cães e uma pessoa chegou a tentar nos agredir com um pedaço de pau.”
As praias do Sri Lanka são um importante ponto de nidificação para cinco das sete espécies de tartarugas-marinhas existentes no mundo. Embora a captura e comercialização de tartarugas e seus ovos seja ilegal no país, a demanda por esses ovos persiste, especialmente em restaurantes e hotéis que os vendem como iguaria exótica.
Katuwawala acredita que o patrulhamento por si só não será suficiente para preservar as tartarugas a longo prazo. Ele destaca a importância de educar tanto as comunidades costeiras quanto os turistas sobre a necessidade de proteção desses animais.
Lara Wijesuriya, outra voluntária, reforça essa visão: “A conscientização faz diferença na forma como a comunidade percebe o problema e contribui para a solução.” Graças a essas iniciativas, cerca de 90% dos moradores locais agora apoiam os esforços de conservação, segundo Amith Nilanga, pescador e instrutor de mergulho na região. No entanto, alguns ainda participam da caça furtiva para vender os ovos, considerados altamente nutritivos.
No sul da ilha, o Projeto de Conservação das Tartarugas, liderado por Thushan Kapurusinghe, foi além ao recrutar caçadores para proteger os ninhos, oferecendo-lhes uma renda alternativa por meio de patrulhas 24 horas por dia.
Outro desafio são as “incubadoras de tartarugas” ilegais, onde ovos coletados ilegalmente são mantidos até a eclosão. Turistas são incentivados a comprar os filhotes para soltá-los no oceano, mas essa prática, além de ser ilegal, é prejudicial para as tartarugas, pois o contato com humanos pode transmitir doenças, e a liberação dos filhotes durante o dia os torna presas fáceis para predadores.
Na estação da guarda costeira em Dehiwala, perto de Colombo, pequenas tartarugas começam a emergir da areia ao anoitecer, enquanto a música alta ressoa dos restaurantes próximos. “Quando finalmente vemos os filhotes indo para o oceano, é gratificante saber que ajudamos uma vida a sobreviver”, conclui Fernando.