Para quem mora numa megalópole como São Paulo, ir ao parque no final de semana é a forma mais simples e “possível” de se aproximar da natureza. Para mim, o mais acessível é o da Água Branca, na zona Oeste, perto da Estação Barra Funda. Sou tão habitué que o Arthur, meu filho de 2 anos, considera que lá é “o” parque. Se vamos a outro, ele não se convence, acha que o passeio ficou incompleto.
De tanto frequentar “o” parque, comecei a descobrir coisas. Por exemplo: a bicharada de lá passa fome. Não estou dizendo que a administração não ofereça ração e milho para as aves, porque oferece sim. Já presenciei a distribuição do rango em mais de uma ocasião, mas os animais estão sempre com muita fome. Ok, ok, as pombas mandam ver e os moradores fixos ficam meio prejudicados. Porém, mesmo assim, acredito que não forneçam comida suficiente para o plantel, porque basta mexer no saquinho de milho para aparecer uma multidão ansiosa de galos, galinhas, pintos, patos, gansos, marrecos…
Também percebo que os frequentadores maltratam muito os animais que moram no parque e os seguranças são completamente inoperantes quanto a isso. Tudo piora nas tardes de sábado e domingo, quando famílias inteiras se juntam em busca de “diversão”, e os pais, “alegrinhos” com a cerveja do almoço, incentivam seus rebentos a correrem atrás das aves. Já perdi a conta das vezes em que entrei em bate-boca por causa desse tipo de situação. Também já cometi erros graves, como na vez em que perguntei para um moleque se ele era “imbecil” e… Bem, o menino ERA deficiente mental.
Outra coisa que me tira do sério é ver quantas crianças andam com algum pedaço de pau na mão. Pra que andar com aquilo? O Arthur gosta de pegar galhos caídos das árvores, mas nunca usa para agredir os animais. Nem passa pela cabeça dele inventar uma coisa dessas. Mas as outras crianças fazem exatamente isso – batem nos bichos! E os pais não corrigem nada! Nem os seguranças! Fico louca da vida!
E os roubos de pintinhos, patinhos, pavõezinhos? É tão cruel… Outro dia, vi um velho horroroso (perdoem-me se não sou politicamente correta) colocando um pintinho dentro de um saco, enquanto a galinha gritava desesperada. Pedi ajuda ao segurança do parque, que muito lentamente foi conversar com o homem… Bem, o final foi feliz naquele momento, mas duvido que o vovô malvado não tenha retornado para pegar outro pintinho horas depois, ou mesmo no dia seguinte. Parecia acostumado com a operação. E o fato é que os filhotes de pavão nascidos no final de 2012 desapareceram todos. Pensando bem, faz tempo que não vejo mas nenhum pavão por lá…
Eu e Arthur levamos milho e quirera para a bicharada. Sim, tem as placas pedindo para não alimentar os animais, porém as pessoas jogam pipoca doce e salgada, salsicha, frituras… Ao menos, levamos as comidas certas, e eles aceitam cada porção de bom grado. Meu filho já se habituou a ofertar os alimentos com a mãozinha. Tem um pato que – eu juro! – já nos conhece. Para ele, levamos uns agrados especiais. Ele adora pão, e um senhor que alimenta os gatos do parque nos disse que não faz mal, desde que a gente faça bolinhas bem pequenas. Então, o pato “nosso colega” ganha pãozinho, e alguns outros patos e gansos que se interessam pela guloseima também se dão bem. Não raro, pessoas se aglomeram à nossa volta, impressionadas com a desenvoltura do Arthur no trato com os animais. Espero que fiquem inspiradas não pela graciosidade dele, mas sim, pelo exemplo que ele dá, de respeito pelas outras espécies…
Outro capítulo que me enche de tristeza é o que acontece nos lagos. O povo joga de tudo ali: saquinhos vazios, canudos, latinhas, palitos de picolé. Mais uma vez, os seguranças fazem vista grossa. Já pedi, em mais de uma ocasião, que me ajudassem a “pescar” embalagens flutuantes de Ruffles, mas sempre sou ignorada. Temo pelos peixes e pelas tartarugas. Se ingerirem aqueles lixos, e é muito provável que o façam, estarão condenados à morte.
Enfim, a concepção do parque – manter uma ampla gama de animais soltos, interagindo com as pessoas – é bacana, mas o ser humano não parece digno dessa deferência. E o Poder Público, mantenedor daquela área, não cumpre seu dever. Primeiro, porque não educa; segundo, porque não fiscaliza. E, como sempre, o animal é a parte prejudicada.