EnglishEspañolPortuguês

APRISIONAMENTO

Domesticação forçada não é proteção: programa permite que animais silvestres resgatados do tráfico sejam adotados no Rio Grande do Sul

Enquanto santuários são negligenciados, governo gaúcho transforma animais em prisioneiros, uma solução conveniente para humanos, mas cruel para quem já sofreu em cativeiro.

7 de agosto de 2025
Júlia Zanluchi
2 min. de leitura
A-
A+
Macaca-prego adotada por empresária no RS. Foto: Reprodução/TV Globo

O governo do Rio Grande do Sul deu nessa semana um passo perigoso na normalização da domesticação de animais silvestres. O programa Guardiões da Fauna, apresentado como uma “solução compassiva” para animais incapazes de retornar à natureza, nada mais é do que a domesticação forçada de quem jamais deveria viver sob o controle humano.

A proposta de entregar papagaios, bugios, macacos e até gatos-do-mato para “guardiões” particulares é uma afronta aos direitos animais. Esses indivíduos não são objetos de decoração ou companhia doméstica, são seres sencientes, com comportamentos e necessidades inerentes à sua espécie. Nenhuma residência humana, por mais bem-intencionada que seja, pode substituir um habitat natural ou mesmo um santuário especializado.

O governo alega que o programa tem “critérios rígidos”, mas isso não muda o fato fundamental: animais silvestres não existem para serem domesticados por humanos. Se um animal não pode ser reintroduzido na natureza, a única alternativa ética é encaminhá-lo a um santuário, onde possa viver com o mínimo de interferência humana, em um ambiente que respeite sua natureza selvagem.

Ao transformar a guarda de animais silvestres em uma prática “autorizada”, o governo do RS está enviando uma mensagem perigosa: a de que esses seres podem ser tratados como propriedade, desde que haja um selo estatal. Isso não só banaliza o sofrimento imposto pelo cativeiro, como também pode estimular o tráfico de animais.

Além disso, o programa ignora o fato de que muitos desses animais, mesmo incapacitados, sofrem profundamente em ambientes domésticos. Macacos desenvolvem distúrbios psicológicos, aves ficam frustradas por não poder voar livremente, e felinos selvagens jamais se adaptam à vida em cativeiro. Isso não é “proteção”, é privação.

Se o governo realmente quisesse agir em defesa desses animais, investiria na criação e manutenção de santuários especializados, onde os resgatados pudessem viver em semiliberdade, sem serem reduzidos a “pets exóticos”. Em vez de repassar a responsabilidade para civis, deveria garantir recursos para espaços que priorizem o bem-estar animal, não a conveniência humana.

O programa Guardiões da Fauna é uma tentativa de maquiar a exploração animal como “proteção”. Mas não nos enganemos: animais silvestres não são nossos para guardar, domesticar ou controlar. Eles têm o direito inalienável de viver conforme sua natureza e se a interferência humana os impediu de retornar à vida livre, o mínimo que devemos fazer é oferecer-lhes um refúgio que respeite sua liberdade.

    Você viu?

    Ir para o topo