O governo do Rio Grande do Sul deu nessa semana um passo perigoso na normalização da domesticação de animais silvestres. O programa Guardiões da Fauna, apresentado como uma “solução compassiva” para animais incapazes de retornar à natureza, nada mais é do que a domesticação forçada de quem jamais deveria viver sob o controle humano.
A proposta de entregar papagaios, bugios, macacos e até gatos-do-mato para “guardiões” particulares é uma afronta aos direitos animais. Esses indivíduos não são objetos de decoração ou companhia doméstica, são seres sencientes, com comportamentos e necessidades inerentes à sua espécie. Nenhuma residência humana, por mais bem-intencionada que seja, pode substituir um habitat natural ou mesmo um santuário especializado.
O governo alega que o programa tem “critérios rígidos”, mas isso não muda o fato fundamental: animais silvestres não existem para serem domesticados por humanos. Se um animal não pode ser reintroduzido na natureza, a única alternativa ética é encaminhá-lo a um santuário, onde possa viver com o mínimo de interferência humana, em um ambiente que respeite sua natureza selvagem.
Ao transformar a guarda de animais silvestres em uma prática “autorizada”, o governo do RS está enviando uma mensagem perigosa: a de que esses seres podem ser tratados como propriedade, desde que haja um selo estatal. Isso não só banaliza o sofrimento imposto pelo cativeiro, como também pode estimular o tráfico de animais.
Além disso, o programa ignora o fato de que muitos desses animais, mesmo incapacitados, sofrem profundamente em ambientes domésticos. Macacos desenvolvem distúrbios psicológicos, aves ficam frustradas por não poder voar livremente, e felinos selvagens jamais se adaptam à vida em cativeiro. Isso não é “proteção”, é privação.
Se o governo realmente quisesse agir em defesa desses animais, investiria na criação e manutenção de santuários especializados, onde os resgatados pudessem viver em semiliberdade, sem serem reduzidos a “pets exóticos”. Em vez de repassar a responsabilidade para civis, deveria garantir recursos para espaços que priorizem o bem-estar animal, não a conveniência humana.
O programa Guardiões da Fauna é uma tentativa de maquiar a exploração animal como “proteção”. Mas não nos enganemos: animais silvestres não são nossos para guardar, domesticar ou controlar. Eles têm o direito inalienável de viver conforme sua natureza e se a interferência humana os impediu de retornar à vida livre, o mínimo que devemos fazer é oferecer-lhes um refúgio que respeite sua liberdade.