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Dois terços das bacias hidrográficas do planeta estão em desequilíbrio

Ciclo hidrológico está cada vez mais imprevisível, diz relatório da Organização Meteorológica Mundial Secas, fazendo com que enchentes se tornem mais extremas e frequentes

18 de setembro de 2025
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Leito seco de um lago na comunidade quilombola Saracura, localizada na área de várzea do rio Amazonas, próxima a Santarém, durante seca de 2024. Foto: Lalo de Almeida/Folhapress

ano de 2024 entrou para a história como o mais quente desde o início dos registros, há 175 anos, segundo reiterou o mais recente relatório da OMM (Organização Meteorológica Mundial), ligada às Nações Unidas.

Os extremos de seca e inundações causados pela crise climática, às vezes na mesma região, foram tão intensos que apenas um terço das bacias hidrográficas do mundo apresentaram condições normais nos últimos seis anos, apresentando excesso ou escassez de água, destaca o documento divulgado nesta quarta-feira (18/09).

ciclo hidrológico cada vez mais errático está criando grandes problemas para sociedades e governos, causando bilhões de dólares em prejuízos, alertam os cientistas envolvidos no relatório.

O texto aponta para um cenário de secas prolongadas no norte da América do Sul, na Bacia Amazônica e no sul da África. Por outro lado, partes da África Central, Europa e Ásia tiveram que lidar com um clima mais úmido do que o normal, sendo atingidas por inundações devastadoras ou tempestades mortais.

A Europa registrou a pior temporada de enchentes desde 2013. Um terço de sua rede fluvial ultrapassou níveis de inundação considerados altos, com 335 mortes e mais de 400 mil pessoas afetadas.

A Ásia e locais no Pacífico foram atingidos por chuvas recordes e ciclones tropicais, incluindo o tufão Yagi e as inundações de primavera no Afeganistão, resultando em mais de 1.000 mortes, graves danos econômicos e crises humanitárias generalizadas em vários países.

“Água é vida. Ela sustenta nossas sociedades, impulsiona nossas economias e ancora nossos ecossistemas. E, no entanto, os recursos hídricos do mundo estão sob pressão crescente e, ao mesmo tempo, riscos mais extremos relacionados à água estão tendo um impacto crescente nas vidas e nos meios de subsistência”, afirma Celeste Saulo, secretária-geral da OMM, no prefácio do relatório.

Brasil de extremos simultâneos

O relatório lembra que o Brasil viveu dois desastres hídricos de grande escala no ano passado. Enquanto as enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul, em maio, deixaram mais de 180 mortos e afetaram quase 2,4 milhões de pessoas, a amazônia enfrentou a seca mais intensa já registrada.

O rio Negro, em Manaus, atingiu nível mínimo histórico, enquanto a bacia amazônica registrou chuvas até 40% abaixo da média. No total, a seca —iniciada em 2023 e agravada pelos efeitos do El Niño e do desmatamento— afetou 59% do território nacional, atingindo também o pantanal e o semiárido.

Do norte ao sul, as perdas econômicas foram significativas. Somente no setor agrícola gaúcho, os prejuízos ultrapassaram R$ 8,5 bilhões. Pastagens, plantações de soja e a pesca artesanal sofreram danos severos, aponta o relatório.

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