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EXPLORAÇÃO

Dois cavalos morrem após tradicional corrida com obstáculos na Inglaterra

11 de abril de 2022
4 min. de leitura
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Foto: Reprodução | Paul Childs | Reuters

O Grand National, uma corrida de cavalos puro-sangue com obstáculos, teve como saldo as mortes de dois animais. A prova foi realizada nesse sábado, em Aintree, na Inglaterra, com a participação de 40 competidores, e gerou uma onda de críticas nas redes sociais. A disputa movimenta casas de aposta.

A primeira morte foi confirmada ainda no sábado. O cavalo Discorama não resistiu aos ferimentos sofridos entre a 12ª e a 13ª cercas. O animal era bicampeão do torneio.

“Depois da corrida, Discorama, que havia parado no meio da prova, foi avaliado na unidade de tratamento veterinário de Aintree, dentro dos estábulos. Infelizmente, determinamos que ele havia sofrido uma lesão pélvica intratável e agora foi necessário sacrificá-lo por motivos de bem-estar”, afirmou o Chris Proudman, conselheiro veterinário do Hipódromo de Aintree.

Nesse domingo houve a confirmação da morte do segundo cavalo, o castrado Eclair Surf. A informação foi dada pela treinadora do animal, Emma Lavelle.

“Estamos muito tristes em informar que tendo sofrido uma lesão traumática na cabeça no Grand National de ontem, Eclair Surf perdeu sua luta nesta manhã”, afirmou Lavelle, em suas redes sociais.

Eclair Surf recebeu os primeiros socorros no hipódromo por uma equipe de veterinários “de primeira classe”, antes de ser transferido para a universidade de Liverpool, onde foi tratado durante toda a noite toda. O animal morreu na manhã desse domingo.

As mortes geraram uma onda de críticas nas redes sociais. Usuários lembraram, sobretudo, que os animais são colocados para correr para que os apostadores tentem ganhar algum dinheiro.

A corrida movimenta as casas de aposta. A procura foi tão grande que os sites Bet365, SkyBet e Ladbrokes apresentaram instabilidade e chegaram a ficar fora do ar, conforme relatos compartilhados pelos usuários nas redes sociais.

O Grand National é realizado desde o século XIX em Aintree na Inglaterra. A edição deste ano foi vencida pelo cavalo Noble Yeats. O prêmio foi entregue pela Duquesa da Cornualha, Camilla Parker-Bowles, mulher do príncipe Charles.

Fonte: O Globo 

Nota da Redação: cavalos explorados em provas de hipismo são submetidos a condições que superam os seus limites físicos. Muitos deles são obrigados a competir desde os dois anos de idade, quando os sistemas ósseo e muscular do animal ainda não está completamente formados. Lesões, fraturas e dores, que logo se tornam crônicas, são comuns.

Pressionados por seus adestradores e pelas altas quantias de dinheiro envolvidas, esses animais são obrigados a participar de treinamentos longos e exaustivos que têm como única função prepará-los para torneios, para que todo o investimento financeiro gere lucro. Cavalos e éguas que participam de provas de equitação não são atletas, são escravos.

Estudos apontam que o esforço das corridas leva a sangramento nos pulmões e na traqueia (HPIE – Hemorragia Pulmonar Induzida por Exercício), além de claudicação, dor intensa nas patas causadas por baixo fluxo sanguíneo que também pode estar associada a doenças cardíacas. Quando sofrem fraturas, o ossos podem se partir em vários fragmentos.

O sacrifício de cavalos feridos é sempre a primeira opção, mesmo quando há sugestões de tratamento. Um cavalo ferido, mesmo recuperado, não poderá mais participar de corridas e gerar lucro aos seus algozes, então os gastos veterinários são minimizados e dispensados. Quando não são mortos a tiros, são encaminhados para matadouros.

A prova disso foi uma investigação recente feita pela BBC que descortinou os bastidores do destino de cavalos explorados em corridas. Cavalos que ajudaram jóqueis a ganhar troféus e muito dinheiro no passado, são enviados para frigoríficos para serem mortos para a fabricação de ração ou para consumo humano.

O hipismo não é diferente de nenhuma outra indústria que abusa, maltrata e explora animais. O glamour das competição de equitação é apenas uma alienação elitizada que não encontra mais espaço na sociedade contemporânea e precisa ser descontruído, combatido e proibido. Infelizmente, provas disso não faltam.

Em 2011, o cavalo cavalo Hickstead, de 15 anos, desmaiou durante a Copa Mundial de Saltos a Obstáculos de Verona, na Itália, e teve diversas convulsões diante do público. Ele não sobreviveu e a causa da morte foi divulgada como aneurisma. Em 2012, um cavalo morreu em Tarragona, na Espanha, após ser obrigado a saltar sob obstáculos até a exaustão.

Nas Olímpiadas de 2014, um cavalo sofreu um infarto fulminante no início da prova de equitação. Ocasionalmente, jóqueis também são as vítimas da prática. Nas provas de classificação para as olímpiadas de 2016, a jóquei Caitlyn Fischer, de 19 anos, morreu após o cavalo que montava errar um dos obstáculos.

Qualquer prática que se considere esportiva precisa estar relacionada com o desenvolvimento, a superação e a evolução do ser humano. Nenhuma atividade que cause dor, sofrimento e escravize seres indefesos deve ser classificada como esporte pela sociedade. Que a morte desses cavalinhos se tornem um símbolo e estimule a proibição do hipismo.

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