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CONTRADITÓRIO

Dois anos após criar Instituto Onça-Pintada, onde 72 animais morreram, biólogo defendeu caça em tese de doutorado

Biólogo Leandro Silveira defendeu, em 2004, a ideia de que animais poderiam ser mortos em atividade proibida no Brasil e criticada por ambientalistas

24 de agosto de 2022
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Foto: Divulgação | IOP

Suspeito de negligência e maus-tratos contra ao menos 72 animais, o fundador do Instituto Onça-Pintada, Leandro Silveira, defendeu em sua tese de doutorado em biologia animal a liberação da caça esportiva para reduzir os ataques de onças-pardas e onças-pintadas à pecuária brasileira. A atividade é criticada por especialistas em fauna e flora devido ao seu potencial de estímulo à caça indiscriminada de animais silvestres e ao porte de arma de fogo.

Intitulado “Ecologia comparada e conservação da onça-pintada e onça-parda no Cerrado e Pantanal”, o artigo defendido em 2004 por Silveira afirma ainda que a verba arrecadada com a caça esportiva poderia ser usada para monitoramentos populacionais das espécies.

“Para regiões do Pantanal onde as propriedades são geralmente latifúndios, se dados científicos comprovarem a existência de um ‘animal-problema’, além da impossibilidade de outra solução para o conflito, a caça esportiva embasada cientificamente poderia ser a opção de manejo a ser adotada”, escreveu o biólogo, que defendeu a tese sobre a possibilidade de caça a onças apenas dois anos depois de ter fundado o Instituto Onça-Pintada, em 2002. A ONG tem, entre seus objetivos, preservar a onça-pintada de presas naturais em seus habitats e desenvolver pesquisa e estratégias de conversação. Em 2010, o Ibama autorizou que a instituição funcionasse como criadouro conservadorista.

A caça no Brasil é proibida desde 1967 e, atualmente, por ser espécie exótica, invasora e com grande poder reprodutivo, adaptativo e predatório, apenas o javali tem a caça permitida. Para o agente ambiental licenciado do Ibama, Augusto Morelli, a “crueldade” de matar animais por “esporte” pode incentivar a extinção de espécies e o aumento do número de armas na mão de civis.

A caça não traz nenhum benefício para controle da população e manejo de ecossistemas porque não tem critério científico. É só uma forma cruel de promover uma nova forma de perda da biodiversidade já escassa e favorecer pessoas que querem ter posse de armas. Os javalis, por exemplo, são abatidos sem nenhum tipo de fiscalização que acompanhe a redução da espécie”, explica Morelli.

Ainda segundo o agente do Ibama, apesar da legislação orientar sobre a caça de javalis, “não há nenhum controle governamental sobre a atividade”.

Em nota, Leandro Silveira respondeu que “incluiu a caça como uma entre várias alternativas de manejo na população animal, em circunstâncias específicas e, principalmente, sob controle científico. Inclusive para que se preservem determinadas espécies da extinção”.

No Brasil, a onça-pintada está ameaçada na categoria vulnerável, com perspectivas de agravamento da situação. Quando analisadas apenas as ocorrências do animal na Mata Atlântica, a espécie é classificada como criticamente em perigo, por já ter perdido 85% de seu habitat, ocupando apenas 3% da região, de acordo com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.

Na categoria de caçadores foi ampliada pelo Decreto 9.846/2019 a cota de armas de 12 para 30 para caçadores, sendo até 15 de uso restrito, incluindo fuzis semiautomáticos. Cada caçador pode adquirir anualmente até 5.000 munições para cada arma de uso permitido e 1.000 para as de uso restrito. A atividade é regida pelo Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma).

Fonte: O Globo

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