Assim como nós, seres humanos, os animais domésticos também podem apresentar infecções oftalmológicas, ou seja, doenças que comprometem a saúde ocular e consequentemente a visão. Dentre as principais, podemos citar a catarata, o glaucoma, as infecções palpebrais, corneanas e da conjuntiva, explica a médica veterinária e oftalmologista de animais, Camila Donatti, que tem mestrado em Clínica Cirúrgica Animal na área de Oftalmologia pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (Unesp), em Botucatu.
A catarata é uma lesão ocular que atinge e torna opaco o cristalino (lente situada atrás da íris, cuja transparência permite que os raios de luz o atravessem e alcancem a retina para formar a imagem). “No início, pode não ser percebida pelo tutor e o animal enxerga vultos, com a evolução do quadro teremos a cegueira. A catarata pode ser uma condição genética ou adquirida, e pode estar presente em qualquer raça ou idade, até mesmo em animais jovens”, explica a doutora Camila Donatti.
Assim como nos seres humanos, a diabetes pode predispor ao aparecimento da catarata nos animais domésticos, além disso, traumas na região dos olhos e inflamações intraoculares também são fatores predisponentes. O diagnóstico da catarata é feito pelo oftalmologista veterinário, o único tratamento é o cirúrgico, onde o objetivo da cirurgia é substituir o cristalino danificado por uma lente artificial que recuperará a função perdida. O cristalino pode ser retirado inteiro ou por facoemulsificação (um aparelho “tritura” e aspira o cristalino), que tem a vantagem de exigir corte menor e menos suturas. A cirurgia da catarata exige cuidados pós-operatórios como qualquer outra intervenção cirúrgica.
O glaucoma é uma doença ocular grave causada pela elevação da pressão intraocular que provoca lesões no nervo óptico e na retina, é uma doença hereditária em beagles, cocker spaniel, basset hound entre outras raças. Existe também o glaucoma congênito que acomete os recém-nascidos e o glaucoma secundário que é decorrente de enfermidades como diabetes, uveíte, catarata, luxação do cristalino, dentre outras.
É uma doença assintomática no início e em fases mais avançadas, podemos observar hiperemia ocular (olho vermelho), opacidade corneana, aumento de volume do globo ocular além de muita dor. O tratamento do glaucoma nos animais domésticos é clínico e à base de colírios antiglaucomatosos pela vida inteira.
Nas afecções palpebrais temos o entrópio que é uma doença em que a pálpebra se vira sobre si mesma, contra a superfície ocular e o ectrópio, uma doença onde a pálpebra se vira para fora e não entra em contato com o globo ocular. Nesses dois casos, os olhos ficam irritados, provocando vermelhidão, lacrimejamento e até lesões graves na superfície corneana. O entrópio é mais frequente em cães da raça shar-pei e o ectrópio em cães da raça cocker spaniel, são bernardo, dentre outras.
Solução
Ambas as patologias devem ser corrigidas com cirurgias. As pálpebras também podem apresentar as distiquíases (mau posicionamento de cílios isolados ou múltiplos) e os cílios ectópicos, que são pelos anormais que crescem na superfície ou na face interna das pálpebras, são irritantes e frequentemente os animais apresentam lacrimejamento constante. Os sinais clínicos variam desde olhos vermelhos e desconforto leve (onde os animais esfregam os olhos intermitentemente), à ulcerações corneanas graves. Ambas as condições são comuns no shih-tzu e buldogue, mas muitas outras raças também podem ser acometidas e devem ser tratadas cirurgicamente.
As úlceras de córnea são erosões presentes na superfície corneana, extremamente doloridas e podem ter causas diversas. Os animais apresentam o olho esbranquiçado, vermelho, com secreção ocular e dor. O tratamento deve ser imediato e criterioso para evitar a perfuração ocular e consequentemente a perda visual. A conjuntivite também acomete os animais domésticos e pode ser causada por vírus, bactérias, fungos, alergias, corpos estranhos ou por deficiência na produção lacrimal (“olho seco”). Os sintomas principais da conjuntivite são vermelhidão ao redor dos olhos, fotofobia (grande sensibilidade à luz), blefaroespasmo (o cão pisca várias vezes em pouco tempo), e secreção ocular. Quando a conjuntivite estiver em sua fase inicial é fácil de ser tratada, mas em casos crônicos pode levar à cegueira.
A oftalmologista explica que, “para deixar seu animal sempre saudável, leve-o ao veterinário assim que forem percebidos alguns dos sintomas citados acima, desta forma evita-se que ele sinta muito mais incômodos nos olhos e que a doença possa progredir, deixando-o infeliz e na maioria dos casos cego”.
Segundo ela, “é preciso muita atenção e cuidado com o animal doméstico, pois uma doença relativamente simples pode transformar-se em algo mais grave. Olhos vermelhos, ao contrário do que a maioria dos tutores pensa, geralmente não é só sintoma de conjuntivite e à longo prazo pode ser prejudicial para a função visual”, alerta a doutora Camila. Dizem que os olhos são espelho da alma. Nesse caso, eles podem até salvar a vida de seu animal. A médica veterinária lembra que a pessoa deve ficar “sempre atenta às alterações nos olhos deles”. A procura por essa especialidade na medicina veterinária aumentou nos últimos anos. Em parte, porque os animais vivem mais e, em outra, porque seus tutores estão mais conscientes e querem garantir a melhor qualidade de vida possível para eles.
Cuidados
O veterinário pode querer ou necessitar de uma assistência ou sugestão de um especialista em alguns quadros clínicos. Geralmente os cachorros e gatos fazem uma consulta com um oftalmologista veterinário por indicação do veterinário “clínico geral”. Nesse caso, os profissionais trabalharão em conjunto para tratar seu bicho.
A regra de ouro, de acordo com a oftalmologista, é sempre ter cuidado com os olhos do animal. “Para uma boa saúde ocular: faça exames oftalmológicos regulares; não medique sem prescrição; não aplique colírios sem recomendação; pelos nos olhos é prejudicial; não deixe pelos caindo nos olhos; tenha cuidado com raças de pelo longo; não utilize xampus inadequados; use sempre xampus indicados para a espécie; vento direto nos olhos é proibido. No pet shop, peça que o soprador/secador não seja direcionado para a região dos olhos”.
Principais sinais
Os animais não querem brincar, ficam apáticos, trombando em objetos, coçando ou com secreção nos olhos, olhos fechados ou piscando muito, vermelhos e com sensibilidade à luz, onde seu companheiro procura lugares escuros para se abrigar.
Fique atento
A oftalmologia veterinária, assim como nos humanos, é a parte da medicina que cuida da saúde ocular. “Sim, seu cãozinho ou gatinho também precisam ir ao ‘médico de olhos’. E não, eles não vão usar óculos. Todo animal deve fazer um exame oftálmico periódico com intuito de prevenir as infecções oculares e consequentemente a cegueira”, ensina a doutora dos olhos dos animais.
Fonte: Diário da Manhã