Realizadores do fascinante “Migração Alada” (2001), os diretores fazem pelos espécimes marinhos o mesmo que aquele trabalho fizera pelos pássaros. Ou seja, conseguem que os espectadores compartilhem o cotidiano dos animais, vivenciando os desafios e a beleza de sua existência.
Assim, é possível sentir-se ao lado dos golfinhos enquanto pulam sem parar da água, em trajetos longos pelo mar, em que disputam cardumes imensos com gaivotas e outras aves marinhas – aliás, o mergulho vertiginoso destes pássaros é um dos pontos altos do filme.
Há sempre uma câmera postada, tanto dentro, quanto fora da água, permitindo visualizar a façanha dos pássaros para conseguir sua comida. O que dá a medida da logística requerida para a realização do documentário, que explora as profundezas do mar com uma riqueza talvez nunca vista antes.
Há inúmeros espécimes exóticos de criaturas marinhas, caso do polvo Blanket Octopus – que abre uma membrana que parece um cobertor para defender-se de inimigos -, a lesma-do-mar Spanish Dancer e inúmeras águas-vivas luminosas.
No caso de espécies conhecidas, como as baleias, o encanto do filme está em sua proximidade destes gigantescos animais, permitindo avaliar a extensão de seu esforço para cruzar os mares em busca de alimento e a complexidade da relação entre mãe e filho.
Da mesma forma, é assustador presenciar o ‘encontro’ entre um solitário mergulhador e um enorme tubarão, que termina sem incidentes, apesar de o tubarão dar uma dentada na prancheta do pesquisador.
Sem pretender idealizar demais a visão da vida selvagem, “Oceanos” mostra-se realista ao documentar também o esforço cotidiano da sobrevivência e a necessidade de algumas espécies devorarem as outras – caso dos pássaros que caçam as tartaruguinhas recém-nascidas de uma praia, das quais às vezes apenas uma consegue atingir o mar e chegar à vida adulta. Da mesma forma, são impressionantes os ataques das orcas aos leões marinhos estacionados numa enseada.
Um recado ecológico também é dado em expressivas visões da poluição marinha, da caça e pesca no mar (boa parte, material encenado, mas, mesmo assim, eloquente) e, especialmente, numa visita feita pelo diretor Perrin e seu neto a um museu de história natural que reúne esqueletos de espécies extintas.
Toda a beleza reunida pelo filme revela-se, assim, como um lembrete da necessidade de que a espécie humana controle seus piores instintos e contribua mais e melhor para preservar esta magnífica diversidade que pulsa aqui bem perto de nós, dentro da imensidão aquática da Terra.
Fonte: O Globo