The Smell Of Money é um documentário que retrata os impactos físicos e morais da suja indústria da carne de porco. O filme apresenta a devastação que a pecuária causa, não apenas nos animais, mas nas comunidades próximas a essas criações também. É uma experiência desconfortável, principalmente por mostrar a realidade.
O documentário coloca as fazendas de porcos locais em julgamento. A roteirista, produtora e cidadã do estado, Jamie Berger, diz que idealizou filme por ter crescido próxima a essa cultura e aspirar mudança. “Aprender sobre a indústria de carne suína do meu estado natal e seus impactos em pessoas, animais e meio ambiente na faculdade me transformou em uma ativista e me inspirou a dedicar minha vida a acabar com a criação industrial de animais”, explicou Berger.
A Carolina do Norte é um dos maiores produtores de carne suína do mundo, possuindo mais porcos do que pessoas, com 9,4 milhões deles. O filme apresenta em determinadas cenas um pequeno celeiro com cerca de 800 animais, mostrando como isso é possível. E a consequência dessa realidade são grandes poços de esterco a céu aberto cheios de milhões de toneladas de fezes e urina.
Rene Miller é uma moradora de longa data do estado que se tornou uma ativista contra a indústria da carne suína. No filme ela mostra as fazendas de porcos próximas a sua casa e apresenta uma “lagoa” onde são descartados os excrementos dos animais. A ativista luta na justiça contra a Smithfield Foods, a maior empresa de carne suína do mundo, para recuperar seus direitos ao ar limpo e água pura.
Cada vez mais as pessoas estão abrindo os olhos para o impacto ético e ambiental do consumo de carne, mas existe ainda o efeito da pecuária na saúde humana. A poluição do ar proveniente de fazendas é responsável por quase 18 mil mortes nos Estados Unidos a cada ano.
O filme aborda ainda o racismo ambiental, onde as comunidades racializadas são prejudicadas por políticas que as obrigam a viver próximas aos resíduos tóxicos.
Um dos protagonistas do filme é Don Webb, um professor que entrou na indústria da carne suína em seus primeiros dias na Carolina do Norte como uma maneira de ganhar algum dinheiro extra. Novo na indústria, ele rapidamente percebeu que o mau cheiro de suas operações estava prejudicando seus vizinhos, por isso abandonou os negócios e desde então luta contra essa produção.
“A história de Don exemplifica o que é a verdadeira parceria”, diz Berger. “Ele fez um enorme sacrifício pessoal para fazer o que sabia que era certo e usar seu próprio privilégio racial e econômico para lutar por outros que foram privados de seus direitos humanos fundamentais, como ar limpo, água limpa e um lugar seguro para viver.”
Além dos ativistas de vários segmentos, o filme deveria abrir os olhos de todos os espectadores para os verdadeiros impactos da pecuária. “Uma ação clara e importante que os consumidores podem tomar imediatamente é retirar seu apoio à criação industrial de animais, recusando-se a comprar produtos de origem animal”, diz Berger. Nos Estados Unidos, 99% de toda carne, laticínios e ovos vêm de fazendas industriais.
Outro personagem do documentário é Tom Butler, um fazendeiro de porcos da Carolina do Norte que ficou desiludido quando percebeu os impactos de suas atividades nas comunidades locais. Agora, ele está trabalhando no cultivo de cogumelos em parceria com seu filho, Will.
Tom e Will trabalham no Projeto Transfarmation da Mercy For Animals, que apoia a transição de fazendeiros industriais para o cultivo de culturas sustentáveis. “Muitos fazendeiros estão desesperados para sair desse negócio que os mantém presos em dívidas e angústia emocional ou física”, acrescenta Berger. “Então, a esperança é que Tom e outros no programa sirvam como modelos que outros possam seguir.”
“A agricultura animal está enraizada em sistemas profundamente enraizados como o capitalismo e o colonialismo que oprimem e mercantilizam seres vivos”, acrescenta Berger. Embora mudar essas forças estruturais envolva décadas ou séculos de esforço coletivo, os indivíduos poder ser influenciados e Tom é um exemplo disso.
Jamie não acha que o documentário resolverá os problemas do mundo, mas tem a esperança de juntar mais pessoas para essa luta, independente da motivação. “Esperamos que o filme una grupos diversos que lutam contra a criação industrial de animais. Como ilustramos no filme, este é um sistema que prejudica a todos nós e só o transformaremos quando trabalharmos juntos”, disse a roteirista.
O documentário ainda não está disponível em nenhuma plataforma de streaming no Brasil.