A indústria de papel e celulose Klabin anunciou no início do mês de setembro que está recuperando potássio do ciclo produtivo e aplicando o insumo como fertilizante em seus plantios de eucalipto e pinus, espécies usadas para compor a massa de celulose. Extrai da produção um elemento que estava incorporado à madeira e o reaplica no solo para produzir mais madeira. Recuperar materiais com as mesmas qualidades dos que foram usados na produção é um dos pilares da economia circular.
O sistema de recuperação de potássio da Klabin é inédito no mundo em papeleiras, segundo a empresa, e está em operação na unidade Puma de Ortigueira, no Paraná. O Brasil é o segundo maior produtor de celulose do mundo e o primeiro maior exportador, segundo relatório do Ministério de Minas e Energia, com dados de 2020. A Klabin é a segunda maior empresa do setor no país, de acordo com o ranking do Estadão de 2021.
O processo acontece na caldeira de recuperação, o coração da fábrica de celulose. É um reator onde se cozinha a madeira, gerando licor, vapor e energia. A combinação de químicos e temperatura elevada separa as fibras de celulose dos elementos que não serão usados para a produção de papel e que advêm do plantio e do solo onde a madeira é plantada, como o potássio.
No processo padrão, esses elementos que não são as fibras têm de ser removidos e são enviados para o tratamento de efluentes. Com a nova tecnologia, o potássio é recuperado na forma de sulfato cristalizado e pode ser usado em adubos.
O novo processo foi desenhado para essa fábrica em particular e pode ser implementado em mais três unidades da empresa que também produzem celulose. A tecnologia de recuperação de potássio vem sendo desenvolvida há quatro anos pela Klabin em colaboração com o grupo internacional Veolia, que tem uma área especializada em evaporação e cristalização.
O potássio recuperado da produção de papel deve suprir a necessidade do produto para uso nas plantações de árvores da Klabin e o excedente será comercializado.
A fábrica de Ortigueira gera 200 toneladas por dia de cinzas em duas caldeiras de recuperação. Dessas cinzas saem 22 toneladas de potássio (cerca de 10% do total das cinzas). Por ano, a estimativa é gerar 8 mil toneladas do insumo. A tonelada de potássio custa hoje 850 dólares.
“É uma importante redução de custo, porque esse é um material que vem basicamente importado, do Leste da Europa, e está com preço alto, também pela alta do frete internacional”, diz Francisco Razzolini, diretor de tecnologia industrial, inovação, sustentabilidade e projetos da Klabin. “Com a diminuição de importação, reduzimos a nossa pegada de carbono, porque o transporte dos nossos insumos pesa na pegada. Se transportamos menos, a pegada diminui”, afirma.
Segundo Razzolini, os esforços de pesquisa e desenvolvimento da empresa estão voltados para recuperar mais elementos dos processos produtivos, aumentando o caráter circular da produção.
“Os tratamentos de emissões aéreas e efluentes estão avançados. Reduzimos consumo de água e temos muito reuso interno. Agora estamos nos debruçando mais sobre os resíduos sólidos”, conta.
“As indústrias modernas de celulose e papel, que já são autossuficientes em energia, exportando também para as redes, se direcionam para o conceito de biorefinarias, com um portfólio de produtos”, diz Razzolini.
Fonte: Ecoa
