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Diversos casos de maus-tratos aos animais são registrados em Goiás

6 de agosto de 2013
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Na última quarta-feira (30), foi encontrado em Ceres (GO) um cão sem olhos e com as pálpebras costuradas. De acordo com o G1, o animal foi resgatado por um autônomo de 35 anos que residia próximo ao local e resolveu ir atrás do cão após ouvir seu choro, durante a noite. Após encontrá-lo, o autônomo lhe deu água, comida e um banho, solidarizado pela situação do animal. A violência contra animais tem crescido em denúncia, segundo a Associação Amiga e Protetora dos Animais (Aspaan) de Goiânia, sendo contabilizadas entre 5 e 10 ligações diárias atualmente.

Após levar o cão à uma clínica veterinária, foi constatado que a sutura havia sido realizada com linha de anzol há pouco tempo, e que, apesar do material utilizado, o procedimento demonstrava profissionalismo. As estranhas circunstâncias levam a acreditar que a remoção dos globos oculares pode ter sido realizada numa cerimônia de magia negra ou em decorrência de alguma doença ou deformidade que o animal possa ter adquirido.

De acordo com a matéria do G1, ele e a esposa decidiram adotar o animal, que já recebeu até nome: Pretinho. “Vou tomar conta dele, cuidar, dar muito carinho. Gosto muito de cachorro”, declarou o autônomo. Apesar do mistério que envolve o caso, o novo tutor de Pretinho resolveu não levar o caso ao conhecimento da polícia. Apesar de não haver uma denúncia formal, a Delegacia de Polícia de Ceres, de acordo com o delegado Luziano de Carvalho, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente, deve apurar o caso. Segundo ele, o caso de Pretinho é “um crime ambiental de ação pública plena e incondicionada”. O problema é ainda amplificado pelo grande número de animais vivendo nas ruas; de acordo com o Centro de Zoonose de Aparecida de Goiânia há mais de 90 mil animais abandonados nas ruas da cidade.

Tendência preocupante

Além do caso de Pretinho, diversas outras ocorrências têm sido noticiadas no Estado, como o caso de uma professora aposentada que matou gatos e dois cães da raça Poodle com veneno em Rio Verde (GO) e não diz se arrepender; ou o caso do trabalhador que espancou  e abandonou um cavalo para a morte em Anápolis (GO). Nesse mesmo mês, volta à mídia o caso de Camilla Corrêa Alves de Moura Araújo dos Santos, 23 anos, que teve um vídeo popularizado na internet onde espanca uma cadela yorkshire. A enfermeira ainda manifestou no Twitter não ter peso algum na consciência após realizar tal ato e criticou pessoas que a julgavam na rede social.

A violência contra animais é uma prática antiga e só teve uma Declaração Universal redigida em 1978, algo que comprova ser recente a discussão acerca dos direitos dos animais, que foram considerados seres sem alma ou sentimentos por muitos séculos, pensamento que visivelmente ainda permeia a sociedade. Apesar disso, como caracteriza o terapeuta e psicólogo social Wadson Arantes, “não há um perfil definido para que aconteça a agressão contra animais. Os indivíduos que a praticam são pessoas que estão vivendo normalmente, mas na relação específica com o animal há transferência de raiva. São pessoas desprovidas de afeto, o que culturamente é inaceitável. Pode ser que hajam traumas, que liguem esse comportamento à psico ou sociopatia, mas essa é uma situação hipotética, cada caso é um caso. Muitos agem assim simplesmente por acharem válida a violência contra alguém que não pode se manifestar”, observa.

Portanto, pode-se afirmar que a violência contra animais é um símbolo de frieza, julgado coerente com base na crença de que animais não sentem dor. Tal discussão inclusive motivou dois grandes filósofos, Voltaire e Descartes, a propor seus pontos de vista. E, como afirmou Voltaire, “teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos sem objetivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não é próprio da natureza tão impertinente contradição”.

Cultura da carne

O conceito de direito à vida aplicado aos animais não se restringe a indivíduos, mas também à comportamentos que mantemos por costume ou genética, como o ato de comer carne. Assim, entra em análise também a forma como a indústria lida com os animais, que serviram para a evolução e progresso tecnológico da humanidade, sempre sob a ideia de que a distância evolutiva permite ao homem fazer o que bem entender da fauna terrestre. E a cada dia aumenta o número de documentários que explicitam e criticam a violência contra animais em diversas áreas.

Há a indústria farmacêutica, que realiza testes em animais; a indústria da moda, com suas roupas de pelagem; e a indústria alimentícia, onde é realizado o abate em larga escala, entre outras. Todas reconhecidas pela ausência de tratamento humanitário, fazendo dos interesses econômicos superiores aos valores morais que defendem o direito à integridade que todos os serem vivos deveriam ter, como afirma a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, da Unesco.

Assim, maior do que a discussão acerca dos direitos e sentimentos dos animais, o problema do abuso animal reproduz apenas um problema muito comum à sociedade humana, a ideia de que é justificável escravizar e destruir o que é diferente. Como afirma Arantes, “o uso da maldade, da violência, é o que caracteriza esse tipo de ação. Alguém que agride um animal pelo qual tem afeto está claramente desequilibrado emocionalmente. Há um desajuste, pois esse indivíduo perdeu o limite. Há pessoas que são supersociáveis, mas que agridem seus cachorros em casa. Esse tipo de pessoa deixa de perceber a realidade de suas ações”, completa.

Seria exagero, com isso em mente, afirmar que a pessoa que desconta suas frustrações em animais também pode reproduzir esse comportamento com outras formas de vidas, animais ou humanas, que julgue inferiores? Não vemos, sob a mesma lógica, países e pessoas em estado de pobreza sendo tratadas sem humanidade alguma, por exemplo? A violência é um ato culturamente reprovável, mas, como defende Arantes, “é uma sociedade agressiva em que vivemos, e o animal, que está indefeso e não tem reação, é um ótimo alvo para a ira. Mas pessoas que agem assim devem ser punidas”.

Fonte: DM

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