Aplicando análises de ponta em centenas de espécimes arqueológicos que abrangem dezenas de milhares de anos, a equipe rastreou o surgimento de formas caninas distintas na pré-história, identificando o momento em que os cães começaram a se diversificar em tamanho e forma, o que ocorreu há pelo menos 11.000 anos. A descoberta abre novas perspectivas para explorar como as mudanças culturais e ecológicas humanas moldaram a história evolutiva dos animais domésticos.
“Esses resultados destacam a longa história da nossa relação com os cães”, disse Carly Ameen, coautora principal do estudo e professora do Departamento de Arqueologia e História de Exeter, em comunicado. “A diversidade entre os cães não é apenas um produto dos criadores da era vitoriana, mas sim um legado de milhares de anos de coevolução com as sociedades humanas.”
O trabalho, publicado na revista Science, foi iniciado em 2014 e analisou 643 crânios de canídeos modernos e arqueológicos, incluindo raças reconhecidas, cães de rua e lobos, abrangendo os últimos 50.000 anos.
Posteriormente, uma equipe internacional de arqueólogos, curadores e biólogos de mais de 40 instituições colaborou para criar modelos 3D dos crânios, a fim de estudar seu tamanho e forma utilizando um método conhecido como morfometria geométrica.
O que se constatou a partir daí foi que, nos períodos Mesolítico e Neolítico, os cães já apresentavam uma ampla variedade de formas e tamanhos, uma variação que provavelmente refletia seus diversos papéis nas primeiras sociedades humanas – desde a caça e o pastoreio até a companhia.
Segundo a pesquisa, o espécime mais antigo identificado como cão doméstico veio do sítio mesolítico russo de Veretye, datado de aproximadamente 11.000 anos atrás. Cães primitivos também foram identificados na América (aproximadamente 8.500 anos atrás) e na Ásia (aproximadamente 7.500 anos atrás). Depois disso, houve uma grande variação surgindo relativamente rápido.
“A redução no tamanho do crânio dos cães torna-se detectável pela primeira vez entre 9.700 e 8.700 anos atrás, enquanto um aumento na variação de tamanho surge a partir de 7.700 anos atrás. Uma maior variabilidade na forma do crânio começa a emergir a partir de cerca de 8.200 anos atrás”, pontuou Allowen Evin, coautora principal do estudo e pesquisadora do CNRS, sediado no Instituto de Ciência Evolutiva de Montpellier, na França.
Ela completou: “Os cães modernos exibem morfologias mais extremas, como buldogues de focinho curto e borzois de focinho comprido, que estão ausentes em espécimes arqueológicos antigos. No entanto, existe uma grande diversidade entre os cães mesmo no Neolítico; era o dobro da encontrada em espécimes do Pleistoceno e já representava metade da variedade observada em cães atualmente”.
Fonte: Um só Planeta