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Direitos animais e argumentos religiosos

30 de setembro de 2011
3 min. de leitura
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Frequentemente, quando questionadas a respeito dos direitos animais, as pessoas utilizam argumentos religiosos. Quando contra, normalmente citarão a má tradução da Bíblia onde diz que Deus criou o homem para dominar sobre outras criaturas. Quando a favor podem usar argumentos diversos de acordo com a religião.

O fato é: independente da religião, tanto cristãos como ateus podem e devem conceder direitos aos animais. E para defender direitos animais nada melhor do que argumentos diretos e objetivos que visam diretamente o benefício dos animais. Argumentos transversais, como já citou Bruno Muller em artigo para ANDA, podem ser muito prejudiciais a causa. Entretanto, é importante conhecê-los e saber argumentar a respeito.

Se a pessoa for cristã, há diversos argumentos possíveis, sem sair da religião, para defender os direitos animais. Como fundamento teórico, é preciso conhecer a diversidade de interpretações a respeito da Bíblia. Para isso, o texto de Sérgio Greif “A Bíblia preconiza o vegetarianismo” é de grande importância.

Greif mostra que há erros de tradução. O original em Hebraico mostra que a famosa passagem do Gênesis 1:26 que cita que os homens tem domínio sobre outras criaturas sofre de erro de tradução. A polêmica palavra que foi traduzida como domínio no original está escrita da forma yrdu, e tem uma tradução mais adequada como descerão.

Segundo Greif:

“…foi empregada a palavra ” yirdu”, que permite uma outra tradução do versículo: “Disse Deus: façamos o homem à nossa imagem e semelhança; e descerão para os peixes do mar, e para as aves dos céus, para os rebanhos e para toda a terra e para todo réptil que rasteja sobre a terra”. Se seguirmos essa tradução, que é mais fiel ao original, podemos interpretar que a intenção da Bíblia pode ter sido mostrar que Deus criou o homem de uma maneira especial, mas que o homem desceria (ou seja, seria igualado) para a condição de um animal.”

Nesse mesmo texto, o autor mostra outros possíveis erros de tradução.
Entretanto, independentemente de tradução, há um excelente teólogo, Andrew Linzey, que defende os direitos dos animais seguindo como espelho a vida de Jesus.

Andrew Linzey escreveu em 1998 Animal Gospel (Evangelho Animal), livro que traça uma profunda conexão entre a pessoa e pregação de Jesus com a luta pela defesa dos animais. Encontramos uma tradução resumida no site da pensata. Ele desenvolve 5 artigos de fé nos quais defende o porquê escolhe estar junto a Jesus na defesa dos animais.

Ainda se pensarmos na questão do exercer domínio sobre outras criaturas, o principal argumento desse filósofo é de que jamais Deus iria pedir que o homem exercesse um domínio abusivo e arbitrário baseado em poder. Ele diz que é só olharmos a vida de Jesus para termos um exemplo disso. Se a forma de exercer poder de Jesus é a humildade, o que nós devemos fazer é nada mais do que nos espelharmos nessa forma. Humildade no sentido de servidão, de cuidado com os demais, de não poder. Olhar para o exemplo de Jesus é muito diferente da forma com que costumeiramente utilizamos a palavra domínio. Portanto, é muito fácil refutar esse argumento contrário aos direitos animais.

Andrew Linzey é tão radical em seus argumentos que ele chega até a criticar o argumento de Peter Singer quando este diz que homens e animais deveriam ter o mesmo valor moral. Linzey argumenta com base na ética Cristã, a ética da compaixão, os mais fracos (no caso os animais) merecem mais compaixão, mais cuidado do que nós, portanto, devemos ter uma maior preocupação moral com eles.

O fato é que os direitos animais podem ser defendidos e recusados de acordo com as diversas religiões. Portanto, é necessário muita reflexão sobre os argumentos apontados. Em que mesmo estamos baseando nossa crença? No Bem, no Amor, na Paz e Compaixão? Se sim, não seguiremos doutrinas que preconizam sacrifícios nem abusos de poder sobre criaturas indefesas.

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