Em quase 60 anos, o número de dias consecutivos secos (CDD, na sigla em inglês) aumentou de 80 para 100 no Brasil, de acordo com estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para integrar a base de dados técnico-científicos para a elaboração do Plano Clima Adaptação.
O CDD, que define as condições excessivamente secas por vários dias, com ausência de dias com chuva, foi calculado estimando-se o número de dias seguidos com precipitação inferior a 1mm.
Para este trabalho, foram considerados dados observacionais de 1.252 estações meteorológicas para construir as séries de temperatura máxima, e 11.473 pluviômetros para os dados de precipitação. A partir dessas informações foram analisadas temperaturas máximas, ondas de calor, índices de precipitação.
A análise efetuada para todo o território brasileiro considerou o período de 1961 a 2020. As primeiras três décadas formam o período de referência. As subsequentes foram segmentadas em três: 1991-2000, 2001-2010 e 2011-2020.
No período de referência, entre 1961 e 1990, o número de CDD era em média de 80 a 85 dias. Na década mais recente, subiu para cerca de 100 dias. “Foi demonstrado que quase todas as regiões do país experimentaram um aumento significativo na frequência dos dias consecutivos secos desde 1960. Estamos vivenciando períodos de seca mais prolongados”, afirmou Lincoln Alves, pesquisador do Inpe responsável pelo estudo, em comunicado. “Esse aumento progressivo é um indicador claro de que as mudanças climáticas já estão impactando significativamente o clima no Brasil”.
Segundo o levantamento, as regiões que registraram acúmulo de maior número de dias sem chuva foram Nordeste e Centro-Oeste. “Na área central do país, essa situação é ainda mais crítica, pois o aumento dos CDD combinado com o aumento das temperaturas cria um cenário de estresse hídrico elevado, o que impacta diretamente as comunidades rurais, a produção de alimentos e a gestão dos recursos naturais”, complementou Alves.
Ele pontuou que o Brasil, sendo um país tropical com setores estratégicos, como agricultura e energia, com alta dependência do clima, precisa urgentemente investir em soluções como a captação e armazenamento de água, a adoção de culturas mais resistentes à seca e ao calor, e a promoção de tecnologias sustentáveis para a irrigação.
“É fundamental que as políticas públicas incorporem essas evidências científicas na formulação de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. As políticas públicas devem priorizar a adaptação ao novo regime climático, integrando as ações climáticas em diferentes níveis de governança”, indicou.
O pesquisador também reforçou a necessidade de restauração de ecossistemas degradados como mecanismo para contribuir com a resiliência ambiental. Nesse pacote, educação e envolvimento das comunidades locais são consideradas cruciais para enfrentar os desafios. “A evidência clara de que o clima já mudou reforça a urgência de ações coordenadas e eficazes”, finalizou.
Fonte: Um Só Planeta