No Dia Internacional da Mulher, devemos refletir: estamos fazendo o necessário para não colaborar com o sofrimento das fêmeas do mundo animal?
Objetificadas, violadas, exploradas, violentadas, feridas e mortas. Esse é o ciclo de vida ao qual fêmeas de diversas espécies são submetidas. Uma vida miserável, repleta de todo tipo de sofrimento, físico e psicológico. No Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, é necessário lembrar de cada uma delas, integrantes do sexo feminino que não têm um único dia de paz em nossa sociedade.
Raras são as espécies que não são vítimas da ganância e da maldade dos seres humanos. Até mesmo as cadelas, tratadas por muitos com carinho, sofrem. As que nascem sem raça, muitas vezes vão parar nas ruas, abandonadas à própria sorte. Passam fome, sede, frio, calor. Suportam chuva, agressões, doenças, atropelamentos. Engravidam e assistem a morte de seus filhotes, que não sobrevivem ao abandono. Assim como elas que, hora ou outra, definham e morrem. As cadelas de raça, no entanto, não se livram do sofrimento por serem cobiçadas pelo ego humano. Pelo contrário, são exploradas para trazerem ao mundo filhotes que serão precificados como se fossem objetos para serem comercializados. Essas cadelas frequentemente vivem presas em gaiolas, submetidas a maus-tratos, em ambientes insalubres, engravidando a cada cio, sem descanso.
Outras fêmeas, como vacas, galinhas e porcas, também não são poupadas pela sociedade. Subjugadas, elas são vistas como objetos a serem usados para garantir algum tipo de benefício aos humanos, como o lucro. Forçadas a engravidar, por meio de um procedimento abusivo e invasivo de inseminação artificial – no qual humanos colocam seus braços quase que inteiros no ânus dos animais -, elas dão à luz bezerros que serão separados delas quase que de imediato. Normalmente, os filhotes permanecem com as mães apenas por 24 horas, para beberem o colostro. O momento da separação é doloroso para ambos. Imagine-se com um dia de vida sendo tirado dos braços da sua mãe. O desespero que um humano sentiria é o mesmo que o bezerro, desprotegido, sozinho, assustado, sente. A vaca, por sua vez, também sofre. É comum que elas fiquem mugindo e procurando pelos filhos. Sempre em vão. Eles nunca são devolvidos a elas. E logo o ciclo de gravidez e sofrimento físico e psicológico reinicia.
A maternidade é difícil para todas as espécies exploradas por humanos. Neste contexto, nenhuma mãe pode viver ao lado da cria no mundo animal. Porcas, presas a celas gestacionais, onde passam grande parte da vida, sem espaço sequer para se movimentar, frequentemente assistem seus filhotes serem castrados sem anestesia. Desesperam-se, mas não podem fazer nada para protegê-los. A amamentação é feita entre as grades da cela, sem que possa haver um real contato de carinho, de aconchego.
Os pintinhos, quando nascem, nunca são vistos como filhotes que devem viver com as mães. Pelo contrário, são observados apenas de duas cruéis formas: fêmeas que serão exploradas impiedosamente para botar ovos assim que crescerem o suficiente ou machos que serão triturados vivos, ainda filhotes, por não servirem para a indústria dos ovos.
Mas não é apenas durante a maternidade que as fêmeas sofrem. Toda a vida desses animais é marcada pelo sofrimento. Impedidas de viverem em paz, na natureza, desfrutando de um sítio ou fazenda, na companhia de outros animais da espécie, elas são condenadas ao aprisionamento, muitas vezes em gaiolas, como acontece com as galinhas, que mal podem abrir suas asas, por conta da falta de espaço. Essas aves também sofrem ao terem seus bicos mutilados sem anestesia, sentem dor e são impedidas de fazer o que é próprio da espécie: selecionar o alimento que comem. O bico é cortado para que elas não se mutilem. O estresse ao qual são submetidas é tamanho que elas arrancam pedaços de seus corpos se tiverem os bicos inteiros.
As vacas, alteradas geneticamente para que produzam quantidades absurdas de leite, sofrem com infecções nas mamas, causadas não só pela produção antinatural do líquido, mas também por ferimentos causados pelos equipamentos de ordenha. Como toda infecção, há dor. Quando já estão velhas, doentes e não servem mais para produzir leite, elas são mortas. Muitas vezes, sem forças para andar, são arrastadas, agredidas e carregadas por equipamentos que as içam como se fossem objetos.
Depois de tanta dor, sofrimento, abuso, essas fêmeas são mortas. E é comum que assistam a morte umas das outras e se desesperem. Em 2012, neurocientistas do mundo inteiro assinaram um manifesto na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, afirmando que mamíferos, aves e outros animais, como polvos, têm consciência. Isso significa que o desespero demonstrado pelos animais ao ver a morte de outro da espécie não é atoa. Eles sabem que serão os próximos. E suportam intenso sofrimento psicológico, seguido do físico, quando chega a vez deles.
No Dia Internacional da Mulher, a reflexão que fica, em relação ao mundo animal, é: estamos fazendo tudo o que podemos? No dia a dia, devemos promover mudanças em nossos hábitos para não sermos responsáveis por tamanho sofrimento. Deixar de consumir tudo aquilo que advenha da dor de um ser que sente e que quer viver e se esforçar para conscientizar as pessoas acerca dessa realidade é o melhor presente que podemos dar a essas fêmeas no dia de hoje.