O Distrito Federal completa, nesta quinta-feira (03/10), 163 dias sem chuva, igualando a marca de pior seca da história, registrada em 1963. Para que o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) as considerem, as precipitações precisam acontecer nas áreas das estações meteorológicas — o que não ocorreu com as chuvas isoladas do último sábado (28/09).
Por isso, oficialmente, a estação meteorológica do Plano Piloto não registra precipitação há mais de cinco meses. Especialista em meio ambiente e mudanças climáticas alertam que a situação atual é ainda mais crítica do que a vivida em 1963.
“A de 63 foi uma seca episódica de um ano muito fora da curva, mas agora a gente está vivendo anos consecutivos de secas históricas combinadas com ondas de calor, com uma terra cada vez mais quente, batendo recordes. Nessa condição, o ano mais seco pode ser sempre o próximo”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
Em 2024, a umidade relativa do ar ficou quase 9 pontos percentuais mais baixa em relação à estiagem de 1963. Outro índice de destaque estão relacionados aos picos de calor: neste ano, a cada três dias, dois tiveram temperaturas máximas mais elevadas.
O resultado desse tempo mais seco e mais quente ajudou a propagar mais queimadas. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o DF registrou, este ano, um dos setembros mais incendiários da história, com cerca de 3 mil focos de queimadas.
Na Floresta Nacional, por exemplo, o fogo queimou quase metade da área de preservação. Um vídeo gravado em 360º mostra a destruição causada pelo incêndio; veja aqui.
Uma das maiores preocupações dos brigadistas era preservar as nascentes de água. Estão na Floresta Nacional algumas das nascentes que abastecem o sistema do Descoberto, responsável por cerca de 60% do fornecimento de água de Brasília.
“Se a vegetação ficar sofrendo queimadas recorrentes, ela vai se enfraquecendo e deixa de existir”, diz agente ambiental do ICMBio;
DF cresceu
A comparação definitiva entre a seca de 1963 e a deste ano está nas proporções do Distrito Federal. Segundo o IBGE, há seis décadas, eram apenas 142 mil pessoas vivendo na recém inaugurada capital.
Atualmente, o DF tem quase 3 milhões de habitantes e é cercado por um Centro-Oeste brasileiro cada vez mais quente, árido e populoso.
“Essa situação pode se prolongar no futuro, com os cenários de mudanças climáticas apontando para isso. É extremamente importante, porque o Cerrado é a caixa d’água do Brasil. É melhor começar a pensar em conservar água e lembrar que muita da energia elétrica usada para ar condicionado vem da água. Falta de água na seca vai ter um impacto, uma cascata, muito intensa”, diz o chefe do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Fonte: g1