Dezenas de aves como tuiuiús e anhumas são eletrocutadas ao buscar alimentos nas lagoas do Pantanal em Cáceres. Os pássaros de grande porte tocam na rede de alta tensão, nesse caso, de 34.500 volts. Essa tragédia vem ocorrendo num trecho da estrada vicinal que liga a BR 070 próximo ao Posto do Grupo Especial de Fronteira que vai até a Fazenda Uberaba, na divisa com a República da Bolívia. A ocorrência desse crime ambiental vem se dando nas lagoas das fazendas Mutum e Santa Helena que margeiam a estrada e rede de energia da Cemat, ambas áreas de propriedade do pecuarista Fábio Luchessi, que reside em São Paulo – Capital.
A fixação da rede de energia próxima a duas lagoas tem atraído milhares de aves diariamente, mas nem todas regressam para seus ninhos. Nessas águas habitam pequenos peixes, répteis, moluscos, caramujos e caranguejos que servem de base na alimentação para esses pássaros que, ao levantar voos, tocam na rede eletrificada. Numa extensão de mais de 1 quilômetro, o cenário é de desastre: são dezenas de esqueletos expostos nos patos embaixo da fiação da Rede Cemat, enquanto outras aves são arrastadas por jacarés para dentro das lagoas. Desgraça dos tuiuiús, sorte para os urubus, gaviões e carcarás que servem dos pássaros mortos.
Não há, por enquanto, uma avaliação por ambientalistas de Cáceres quanto à extensão do problema e até quando irá continuar, mas próximo dali existem pelo menos dois ninhais – o do Presidente à margem do Rio Paraguai e da Fazenda Descalvados. Presume que esses bandos migram desses ninhais até as lagoas. No entanto pantaneiros estimam que, a cada 24 horas, nada menos que 10 aves entre machos e fêmeas são mortas por esse motivo. Considerando que o período de estiagem no Pantanal ainda deve durar mais três meses, é, portanto, incalculável a quantidade de aves marcadas para morrer, daqui até a temporada de cheia na região.
O tuiuiú (Jabiru mycteria) em geral atinge 1,50 metro de altura no caso do macho, enquanto a fêmea chega a 1,30 metro, e durante o voo a sua envergadura, ou seja, de uma asa à outra atinge até 3 metros; essa abrangência é fatal em locais com rede elétrica, onde não há prevenção como a cobertura dos cabos de alta tensão.
O engenheiro Marcelo Gouveia Sebastião, em Cáceres, revelou que não tinha conhecimento da situação. Todavia prometeu efetuar imediatamente estudos na área onde vem ocorrendo essa situação. Ele salientou que a empresa tem envidado esforços para evitar qualquer dano à natureza.
Quanto às duas fazendas da família Luchesi, a informação é de que a rede atravessa a área da propriedade dele e atende dezenas de outras fazendas no pantanal em Cáceres. E que a triste ocorrência se dá pelo fato de os animais buscarem alimentos nas lagoas que estão abaixo da rede de alta tensão.
Tramita na Secretaria de Transportes e de Desenvolvimento de Turismo o projeto de autoria do vereador Antonio Salvador, de Cáceres (MT), que sugere a transformação dessa estrada conhecida como “Boiadeira Antiga” numa estrada Parque, o que poderia evitar a ocorrência de acidentes com aves. Outra saída seria a Rede Cemat isolar toda a extensão dos fios nas proximidades de lagoas na área do Pantanal de Mato Grosso.
Fonte: 24 Horas News