A chegada de uma noiva em um carro de boi durante um casamento em Santa Rita do Sapucaí (MG) viralizou nas redes sociais e foi exaltada como homenagem às raízes rurais do casal, enquanto se ignorava a exploração animal envolvida. Lariane Rodrigues Ribeiro surpreendeu ao surgir na cerimônia em um carro puxado por dez bois, transformando o momento que deveria ser íntimo em um espetáculo apoiado no trabalho forçado de animais.
A cena, registrada em frente ao Santuário de Santa Rita de Cássia, rapidamente se espalhou pelas redes sociais. Convidados, moradores e turistas celebravam a “criatividade” do casal, ignorando como tradições rurais seguem sendo usadas como justificativa para submeter animais a estresse.
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Em entrevistas, Lariane e o agora marido, Gabriel Augusto Teixeira Pinto, afirmaram que a escolha do carro de boi tinha como objetivo valorizar “as origens simples” e a cultura da roça em que foram criados. Segundo ela, o transporte representaria a autenticidade do casal e seu vínculo com a vida no campo.
Entretanto, bois não são elementos decorativos. São animais fortes, mas sensíveis, que não consentem com o uso de seus corpos para entretenimento humano, seja em festas, cavalgadas, desfiles ou casamentos. Práticas culturais passam por revisões éticas ao longo do tempo, e muitas delas, embora populares, envolvem sofrimento invisibilizado.
A montagem do desfile contou com uma boiada de dez bois, reunida com apoio de moradores da cidade. O momento emocionou o casal e encantou o público, segundo relatos. Mas a romantização desse tipo de espetáculo submete os animais barulho, deslocamento forçado e exposição a multidões.
A própria reação da plateia, com aplausos, filmagens, exaltação, mostra como a sociedade ainda enxerga animais como acessórios temáticos, e não como indivíduos com capacidade de sentir dor, medo e estresse.
Embora a celebração tenha sido vista como uma demonstração de orgulho das raízes rurais, valores como simplicidade e empatia, citados pela própria noiva, deveriam se estender também aos animais usados para compor o cenário do evento.
Se para a família o momento simbolizou tradição e identidade, para o movimento de proteção animal o caso mostra a necessidade de ampliar o debate sobre práticas que perpetuam a exploração, mesmo quando embaladas por afeto, nostalgia ou “beleza estética”.