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Devastação de habitat ameaça gorilas que vivem no Parque Nacional Virunga

25 de janeiro de 2012
4 min. de leitura
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Foto: Ramon Azofra / Creative Commons

Os gorilas das florestas da África Central representam um dos mais clamorosos casos de ameaça de extinção de uma espécie por culpa da ação humana. Os caçadores os perseguem implacavelmente, seja para transformá-los em alimento para os miseráveis que vivem nas proximidades, seja para se apossar dos filhotes, cujo preço no mercado negro alcança 40 000 dólares. As madeireiras, mineradoras e carvoarias, assim como as estradas necessárias para escoar sua produção, avançam pelo habitat dos gorilas e o reduzem. O mesmo ocorre com a ocupação humana. Só em 2004, na área do Parque Nacional Virunga, nas fronteiras entre a República Democrática do Congo, Ruanda e Uganda, foram derrubados 1 500 hectares de floresta – o equivalente a oitenta estádios do Maracanã – para abrir terrenos para fazendas e pastagens.

O Parque Nacional Virunga é o principal refúgio dos gorilas-das-montanhas, que formam o grupo mais reduzido desses primatas. Em 2003, um censo revelou que restavam apenas 380 deles no parque, além de outros 300 na Floresta de Bwindi, em Uganda. A boa notícia é que, desde então, a população de gorilas-das-montanhas no Parque Virunga saltou para 480 indivíduos. A mesma sorte não tiveram os gorilas-das-planícies, concentrados principalmente no Parque Kahuzi-Biega, na República Democrática do Congo. Sua população se reduziu à metade nos últimos quinze anos e hoje soma 8 000 animais. As contas são da Wildlife Conservation Society.

O aumento no número de gorilas no Parque Nacional Virunga se deve a três fatores. Primeiro, aos esforços dos três países por onde ele se espalha em fiscalizar suas matas, evitando – tanto quanto possível – a ação dos caçadores e as ocupações irregulares de terrenos. Há hoje 320 patrulheiros em ação em Virunga, todos treinados durante seis meses para a função. A isso se soma a ação de ONGs conservacionistas que atuam no parque de forma permanente, prestando serviços veterinários aos gorilas e livrando-os de armadilhas.

Por fim, a população de gorilas aumentou em consequência do desenvolvimento do turismo no Parque Nacional Virunga. Diversas agências levam turistas para ver e fotografar os gorilas no parque. Cada visita dura uma hora e custa 500 dólares por pessoa. No ano passado, o número de ingressos vendidos para visitar o parque cresceu 44% em relação a 2010. Da renda obtida com os ingressos, 70% se destinam a financiar a fiscalização dos parques nacionais do Congo e os outros 30% são aplicados em obras sociais para a população da região – que, dessa forma, se vê estimulada a preservar os gorilas, em vez de caçá-los para servirem de refeição.

Disse a VEJA Emmanuel de Merode, administrador do Parque Nacional Virunga: “O turismo hoje é vital para a sobrevivência dos gorilas, de diversas maneiras. O dinheiro vindo dessa atividade não só apoia a proteção como contribui com a economia e com as comunidades locais, dando a elas uma razão para querer proteger os animais. Com o dinheiro das permissões para visitas já construímos nove escolas e um hospital”. Um estudo do Instituto Max Planck, da Alemanha, publicado no ano passado, mostrou que, entre 1986 e 2008, a população de gorilas-das-montanhas que não têm contato regular com humanos caiu a um ritmo anual de 0,7%. Já nos grupos habituados ao convívio com conservacionistas e turistas a população aumentou à razão de 4% ao ano.

Onde estão os sobreviventes

Preservar os gorilas-das-montanhas muitas vezes é uma operação de guerra. Desde 1996, nada menos que 140 patrulheiros da parte congolesa do Parque Virunga foram mortos por capangas a mando de madeireiros e carvoeiros impedidos de desmatar. Há quatro anos e meio, ficaram célebres as imagens chocantes de dez gorilas mortos e deixados na floresta – alguns com os filhotes vivos ao lado – como forma de retaliação e intimidação aos guardas. O governo dos três países que administram o parque também precisa combater a corrupção entre os patrulheiros. Muitos deles são aliciados pelos exploradores em troca de propinas.

“Para preservar os gorilas é preciso que eles valham mais vivos do que mortos”, diz o fotógrafo inglês Andy Rouse, autor do livro Gorillas – Living on the Edge (Gorilas – Vivendo no Limite), lançado no ano passado e ainda inédito no Brasil. Rouse é autor das fotografias que ilustram esta reportagem e, munido de suas lentes, já fez nada menos que cinquenta visitas ao Parque Nacional Virunga. Seu livro é um divertido relato dessas expedições e embute vários ensinamentos sobre o comportamento dos gorilas. Embora sejam mostrados como bestas ferozes em filmes e em histórias em quadrinhos, os gorilas são, na verdade, animais dóceis que aceitam pacificamente a presença de humanos entre eles. Em muitas fotos são vistos com a boca aberta e os dentes à mostra, em carrancas ameaçadoras. “Na maioria das vezes, nessas cenas, eles estão apenas bocejando”, informa Rouse. Os gorilas fazem parte de uma lista de mais de 10 000 animais ameaçados de extinção. Seria uma tragédia ainda maior perder justamente uma espécie amiga do homem.

Fonte: Planeta Sustentável

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