Somos onívoros! Somos onívoros! Assim nos dizem, nos martelam os livros, sob a tutela de humildes cientistas.
Há seres detritívoros e onívoros, além dos herbívoros e carnívoros.
Somos comedores de animais e vegetais, mas onívoros! Não como aqueles nojentos comedores de animais e vegetais que comem cadáveres, corpos em decomposição… os… urgh!!… detritívoros.
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– Uai… há quanto tempo foi morto – assassinato qualificado, com requintes de crueldade – o boi de quem o corpo foi reduzido a este bifinho em vosso prato? Quanto tempo em frigoríficos, transportes, meandros da indústria da morte?
– Mas não!!! Conservamos o alimento com químicos e congelamento. Não os comemos podres! Somos onívoros! Argh!! Detritívoros…
– Mas onde começa o apodrecimento?
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Não sei, mas sei de um apodrecimento que com certeza inicia-se ainda antes do abate: o apodrecimento ético. Este, sempre presente.
Cadaverina moral, talvez a substância mais presente nos organismos humanos.
Cadaverina que transforma decência em detritos.
Detritívoros éticos movidos a cadaverina moral. Eis a humanidade.