Um estudo divulgado no dia 18 deste mês, pelo WWF Brasil e parceiros, identificou que o desmatamento e a conversão de matas nativas têm reduzido o habitat de algumas espécies da Amazônia e também do Cerrado. Foram analisadas 486 espécies, entre aves, mamíferos, anfíbios, lagartos e serpentes e foi detectado que algumas perderam mais da metade da área original.
Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil, diz que a perda e a degradação do habitat, principalmente decorrente da expansão agrícola, e também a instalação de grandes empreendimentos, são as mais importantes ameaças para as espécies continentais. Já para as espécies marinhas, a pesca excessiva é a ameaça que mais se destaca.
“Segundo o dados da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN [União Internacional para a Conservação da Natureza], pelo menos seis espécies ameaçadas ocorrem no estado do Acre, uma espécie de rã, três primatas, o tamanduá-bandeira e o tatu-canastra.”
Mariana explica que essa rã, que é uma espécie do gênero allobates, pode ser encontrada apenas na capital acreana, Rio Branco, e já perdeu quase 60% da sua área de ocorrência original.
A especialista fala que o ICMbio finalizou, em dezembro de 2014, a Avaliação Nacional do Risco de Extinção da Fauna Brasileira. E, entre 2010 e 2014, foram avaliadas mais de 12 mil espécies da fauna e, de acordo com essa avaliação, existem hoje, em todo o Brasil, 1.173 espécies ameaçadas de extinção.
“Para o estudo, nós pegamos as espécies que são oficialmente consideradas ameaçadas, que, no total, são 1.173, mas, a gente só foi olhar para aquelas que ocorriam na Amazônia e no Cerrado, então, é uma parte, um conjunto delas. Dessas espécies, cerca de 883 são animais vertebrados, como os mamíferos, as aves e os anfíbios”, acrescenta.
Sapinho de Porto Walter
A gerente de Ciência do WWW Brasil disse que também foi incluído no estudo um outro sapinho, que é encontrado no município de Porto Walter, que não está oficialmente na lista, a rã-flecha (Dendrobates tinctorius).
“São espécies que não estão oficialmente na lista, mas têm uma distribuição que ocorre em um território muito pequeno. Ele não deve estar na lista porque a lista é de 2014. Imagina quanta informação e quanto desmatamento já aconteceu de 2014 até 2022? É muito provável, que em uma próxima revisão, ele já seja considerado como ameaçado de extinção.”
De acordo com Mariana, a rã-flecha encontrada em Porto Walter está em uma área onde há pouca mata nativa. “Ela está em uma área com altas taxas de conversão, então, essa espécie já perdeu mais de 68% da sua distribuição original”, afirma.
São muitas as espécies de plantas e animais da Amazônia com potencial farmacológico e que podem ser usadas para fazer novos medicamentos ou cosméticos.
As espécies de sapos da família Dendrobatidae têm peles ricas em moléculas que podem ser aproveitadas para o desenvolvimento de remédios como é o caso específico dos sapos da família Dendrobatidae, a rã flecha, que fica nessa região do Acre em que a floresta nativa vem perdendo espaço.
O objetivo do estudo foi mostrar as consequências da perda de vegetação nativa para a biodiversidade do Cerrado e da Amazônia. Além disso, juntar evidências para propor políticas públicas e para a realização de ações de conservação das espécies.
Para chegar aos dados do impacto da perda de habitat e biodiversidade, os pesquisadores cruzaram os mapas da distribuição de cada uma das espécies (disponibilizadas no site da IUCN) e os dados de uso do solo para o Cerrado e para a Amazônia (do MapBiomas).
Perda da biodiversidade
Mariana ressalta ainda que a perda de espécies, da distribuição da área, de ocorrência dessas espécies, não é só para as espécies em si, mas, na verdade, é também para a biodiversidade.
“É um indicador que estamos perdendo uma série de serviços que a natureza fornece para os homens, seja água, para a produção de alimentos, seja para a regulação do clima, então, a perda da biodiversidade é uma questão não só ambiental, mas também uma questão de desenvolvimento econômico, social e também uma questão ética, porque todas as espécies têm o direito de existir”, finaliza.
Desmatamento no AC mais que dobrou
A destruição de áreas de floresta no Acre alcançou um alarmante patamar nos últimos três anos. O desmatamento na região mais que dobrou entre agosto de 2018 e julho de 2021 que no mesmo período de 2015 a 2018. É o que mostra um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
No ranking de desmatamento total, o Acre ocupa a 5ª posição com mais de 730 km² de floresta derrubados ao ano no triênio 2019-2021. Ao todo, o estado concentra 7% do desmatamento ocorrido nas áreas protegidas da Amazônia entre 2020 e 2021.
O estudo mostra ainda que o Acre foi o estado da região Amazônica que mais perdeu área de floresta em termos proporcionais ao território entre os triênios analisados.
Fonte: G1