O desmatamento do Cerrado no último ano e meio foi responsável por emissões de gases de efeito estufa quase equivalentes às da indústria brasileira. Essa é a conclusão de um novo estudo divulgado pelo IPAM, que estimou que a perda de vegetação nativa no bioma lançou mais de 135 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera entre janeiro de 2023 e julho de 2024, quase o mesmo que as emissões de todo o parque industrial nacional, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima (OC).
Os dados foram obtidos a partir de imagens de satélite do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) Cerrado. O levantamento identificou que as perdas de formações savânicas, a mais predominante no bioma, representaram 65% do total de emissões associadas ao desmatamento, com cerca de 88 milhões de toneladas de CO2.
A savana do Cerrado é a mais rica e biodiversa do planeta. No entanto, como o IPAM lembrou, sua preservação esbarra em problemas crônicos da política ambiental, que costuma priorizar a proteção de formações florestais em detrimento de outros tipos de ecossistemas.
O fato de que mais de 60% da vegetação remanescente do Cerrado estar em áreas privadas também é um obstáculo. “Pelo Código Florestal, essas propriedades podem legalmente desmatar até 80% da vegetação nativa em seus terrenos. É um cenário sensível para a proteção do bioma, que expõe a lacuna de políticas de incentivo para evitar o desmatamento, ainda que legal, e demanda também mais fiscalização para averiguar o desmate ilegal”, explicou Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM responsável pelo SAD Cerrado.
De acordo com o estudo, as emissões decorrentes do desmatamento no Cerrado se concentraram na região do MATOPIBA, a fronteira agrícola que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Ao todo, 80% das emissões vieram de perda de vegetação na região, um total de 108 milhões de toneladas de CO2, o equivalente a 50% das emissões totais do setor de transportes, segundo dados do SEEG.
Não coincidentemente, esses estados lideraram a relação dos maiores emissores de CO2 decorrentes do desmatamento do Cerrado. O Maranhão, líder de desmate no período analisado (301 mil hectares), liberou 35 milhões de toneladas de CO2. Segundo na lista, com 273 mil hectares desmatados, o Tocantins emitiu 39 milhões de toneladas de CO2.
Fonte: ClimaInfo