Das 191 plantas cultivadas ou silvestres utilizadas para a produção de alimentos no Brasil, com processo de polinização conhecido, 114 (60%) dependem da visita de polinizadores, como as abelhas, para se reproduzir.
Esse serviço ecossistêmico tem sido ameaçado por fatores como o desmatamento, as mudanças climáticas e o uso de agrotóxicos. O desmatamento leva à perda e à substituição de habitat por áreas urbanas, e diminui a oferta de locais para a construção de ninhos e reduz recursos alimentares utilizados por polinizadores.
Já as mudanças climáticas podem modificar o padrão de distribuição das espécies, a época de floração e o comportamento dos polinizadores. Também são capazes de ocasionar alterações nas interações, invasões biológicas, declínio e extinção de espécies de plantas das quais os polinizadores dependem como fonte alimentar e para a construção de ninhos, além de desencadear o surgimento de doenças e patógenos.
Além disso, a aplicação de agrotóxicos para controle de pragas e patógenos, com alta toxicidade para polinizadores, pode provocar a morte, atuar como repelente e causar efeitos tóxicos subletais como desorientação do voo e redução na produção de prole. E o uso de pesticidas tende a suprimir ou encolher a produção de néctar e pólen em algumas plantas, restringindo a oferta de alimentos para polinizadores.
O alerta foi feito por um grupo de pesquisadores no 1º Relatório Temático de Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil lançado no mês passado durante evento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O grupo de pesquisadores fez uma revisão sistemática de mais de 400 publicações, sintetizando o conhecimento atual e os fatores de risco que afetam a polinização, os polinizadores e a produção de alimentos no Brasil.
A fim de combater essas ameaças, que colocam em risco a produção de alimentos e a conservação da biodiversidade brasileira, eles apontam que são necessárias políticas públicas urgentes que integrem ações em diversas áreas, como a do meio ambiente, da agricultura e da ciência e tecnologia.