A Mata Atlântica registrou queda no desmatamento pelo segundo ano consecutivo. Dados divulgados pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo INPE mostram que em 2024 foram destruídos 14.366 hectares de florestas maduras, uma redução de apenas 2% em relação ao ano anterior. Porém, quando consideradas áreas menores e vegetação em diversos estágios de recuperação, o sistema MapBiomas SAD aponta 71.109 hectares perdidos, representando uma queda de 14%.
A Bahia manteve o título de campeã do desmatamento no bioma, com mais de 23 mil hectares destruídos em 2024, uma queda geral de 37%, mas com um aumento assustador de 92% na perda de matas maduras. Enquanto isso, o Piauí viu a área total desmatada saltar 44%, alcançando pouco mais de 26 mil hectares. O Paraná, por outro lado, apresentou uma redução de 64% no corte de florestas primárias, mostrando que políticas eficazes podem fazer a diferença. Já o Rio Grande do Sul perdeu pouco mais de três mil hectares, parte deles varridos pelas enchentes que marcaram o estado.
Mesmo as áreas supostamente protegidas não estão imunes à crise. Deslizamentos e tempestades recentes devastaram trechos de unidades de conservação em São Paulo e Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, detalhou o Estado de Minas, matas nativas estão sendo convertidas em pastagens e lavouras continuam a todo vapor, muitas vezes mascaradas por supostos “manejos sustentáveis”.
Luís Fernando Guedes Pinto, diretor da SOS Mata Atlântica, comentou à Folha que a situação vai além da preservação de árvores, tratando-se de evitar colapsos que afetam diretamente cidades, economias e vidas. O recado é claro: sem uma drástica redução do desmate combinada com amplos projetos de restauração, novos desastres de grandes proporções serão inevitáveis.
O avanço implacável da agropecuária é o padrão que une todos os contextos – é responsável por mais de 90% da devastação. Guedes Pinto é enfático ao apontar que pastagens e cultivos agrícolas continuam substituindo florestas, muitas vezes em propriedades privadas, enquanto instituições financeiras ainda financiam, mesmo que indiretamente, a máquina do desmatamento ilegal por meio de linhas de crédito que precisam ser melhor fiscalizadas.
Os especialistas cobram medidas duras, incluindo punições exemplares a infratores, embargo de áreas ilegalmente desmatadas e cortes radicais no crédito a desmatadores. “Os dados estão todos mapeados, os responsáveis são conhecidos. O que falta é ação efetiva e coordenada”, pressiona Guedes Pinto.
Fonte: ClimaInfo