O desmatamento das florestas tem grande impacto nas temperaturas regionais. Essa é a constatação de um novo estudo sobre a Amazônia brasileira realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Brasil, e do Instituto de Ciências Climáticas e Atmosféricas, da Universidade de Leeds, do Reino Unido.
Utilizando dados de satélite e inteligência artificial, a investigação descobriu que o deflorestamento na região causou um aquecimento substancial a até 100 km de distância.
Este cenário seria particularmente maléfico para as empresas agrícolas, que, até agora, são líderes em destruição florestal, pois acreditam que ganharão mais dinheiro desmatando mais terras. O fato é que, ao preservar as florestas, o ar melhora e a chuva aumenta, fatores importantes para a produção de alimentos.
Segundo Dominick Spracklen, da Universidade de Leeds, uma árvore média tem um efeito de resfriamento equivalente a dois a três aparelhos de ar-condicionado de 2,5 kW funcionando com potência máxima a cada hora, todos os dias.
“Cada vez mais demonstramos os grandes benefícios que as florestas trazem para as regiões vizinhas. Para os agricultores, trazem ar mais fresco e mais chuvas. Esperamos que colocar números nesses benefícios ajude a persuadir um conjunto mais amplo de pessoas a proteger as áreas florestais”, relatou ao jornal The Guardian.
Impacto significativo
Até agora, os estudos sobre o impacto do desmatamento florestal no calor concentraram-se nos efeitos locais, com uma correlação entre a perda de cobertura arbórea e temperaturas mais elevadas na área onde as árvores foram cortadas.
Essa nova investigação, no entanto, foi além ao analisar se existe também um efeito de aquecimento em uma área mais vasta, e em áreas que foram amplamente desmatadas. E o resultado foi que há, sim, um impacto considerável.
“Mostramos que este aquecimento não local aumentou o aquecimento induzido pelo desmatamento por um fator de quatro. Estimamos que a redução do desmatamento na Amazônia brasileira poderia reduzir o aquecimento futuro no sul da Amazônia em 0,56 °C”, escreveram os cientistas em artigo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
O autor principal Ed Butt disse que isto não deve ser visto como um alarme, mas como uma ferramenta útil para incentivar a gestão sustentável da floresta. “Se pudéssemos reduzir o desmatamento, poderíamos evitar uma boa quantidade de aquecimento regional. Vejo como uma grande oportunidade. Isso demonstra o grande benefício da redução do desmatamento para os agricultores locais… e devolve o controle às regiões e aos estados. Eles poderiam realmente reduzir a quantidade de aquecimento ao qual estarão expostos”, completou.
Fonte: Um Só Planeta