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RELATÓRIO

Desmatamento da Amazônia influencia nas mudanças de temperatura

Ondas de calor excessivo já são apontadas como o evento climático mais mortal do planeta

10 de julho de 2025
Giovana Christ
5 min. de leitura
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Foto: Reuters/Amanda Perobell

Mudanças abruptas de temperatura e ondas de calor estão se tornando mais comuns no Brasil e no mundo a cada ano. As razões para as alterações no clima são diversas, mas o desmatamento da Amazônia e de outras florestas tem sido apontado como uma das principais causas para essas transformações.

Um relatório internacional diagnosticou que entre maio de 2024 e maio de 2025, 195 países e territórios registraram o dobro de dias de calor extremo do que teriam sem o aquecimento global. No Brasil, foram 57 dias com temperaturas extremas, sendo que 47 deles não teriam ocorrido sem a influência das mudanças climáticas.

Neste ano, o Brasil sedia a COP 30 em Belém, no Pará, entre 10 e 21 de novembro. A cúpula global do clima deve colocar o nosso país como protagonista na preservação da Amazônia, transição energética e financiamento climático, conforme os esforços para reduzir o aquecimento global se demonstram cada vez mais urgentes.

O documento, produzido pela Climate Central, World Weather Attribution e Cruz Vermelha Internacional, mostrou que o calor excessivo já é apontado como o evento climático mais mortal do planeta.

Ainda, de acordo com o relatório State of the Global Climate 2024, produzido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), há 86% de chance de que ao menos um dos próximos cinco anos (2025 a 2029) seja o mais quente já registrado.

O que causam os eventos climários extremos?

A pesquisadora Ane Alencar, diretora científica do Ipam, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, explicou à CNN que “são vários os fatores que levam aos eventos climáticos extremos. Eles estão muito relacionados ao aquecimento das águas dos oceanos e a quantidade de gases de efeito estufa acumulados na atmosfera”.

O lançamento desses compostos está intimamente ligado ao desmatamento e a queima de matas. Isso aconteceu porque quando a mata é retirada da terra, o carbono que estava presente naquela região é lançado diretamente à atmosfera.

O impacto é quase imediato. Em locais com menos vegetação e, consequentemente, com menos umidade no ar, as ondas de calor têm um impacto maior, registrando temperaturas ainda mais elevadas.

De acordo com o Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), em 2024 o Brasil ocupou o sexto lugar em emissões totais de gases causadores das mudanças climáticas, e grande parte dessas substâncias são liberadas no ar pelas mudanças do uso da terra no país, entre eles o desmatamento e a queima das matas do nosso território.

“Se você tem menos menos árvore jogando água para o ar, consequentemente terá menos vapor para resfriá-lo.”]A Amazônia tem um papel fundamental no ciclo água e na produção de rios voadores [correntes de umidade que se deslocam com o vento], que levam água pela atmosfera para outras regiões do Brasil e da América do Sul. Então, se você tem menos menos árvore jogando água para o ar, consequentemente terá menos vapor para resfriá-lo.” – Ane Alencar, diretora científica do Ipam

Em uma escala global, o desmatamento das florestas faz com que aconteça uma alta emissão de carbono na atmosfera, contribuindo para o efeito estufa. Esses gases ficam presos na camada gasosa do nosso planeta, atuando como um “cobertor” que retém o calor dos raios solares, aumentando as temperaturas.

Ponto de não retorno

E é possível reverter o cenário causada pelo desmatamento? De acordo com a WWF (World Wide Fund for Nature), organização internacional não governamental dedicada à conservação da natureza, o ponto de não retorno é o conceito que define um limite a partir do qual não é mais possível voltar às condições anteriores da natureza.

Para a Amazônia, seria a impossibilidade das espécies viverem na região em que hoje estão — o que pode acontecer devido às secas, queimadas e a falta de água no solo.

“A ação humana tem um impacto importante na relação das causas que dificultam a floresta de voltar a ser como era antes. Delas, o principal exemplo é o fogo. Em uma área muito seca, com menos chuva e temperaturas altíssimas em que existe o fogo, o processo de empobrecimento ou da degradação  da vegetação provavelmente vai ser uma constante maior nesse ambiente, levando-o ao limiar de não conseguir voltar a ser o que ele era”, disse a Ane Alencar.

Medidas de recuperação

A diretora do Ipam ainda explica que existem diferentes formas de proteger nossas matas, sendo elas divididas entre a redução do impacto, o controle do desmatamento e as ações de restauração das espécies.

“A restauração passiva é aquela em que as áreas são abandonadas e protegidas para não haver mais nenhum distúrbio e deixá-las crescerem naturalmente. A forma ativa é aquela em que árvores são plantadas, estabelecendo a chance das espécies retornarem de uma forma assistida”, contou à CNN.

“Essas são ações possíveis de acontecer e que tem uma função muito importante no processo de recuperação tanto das áreas degradadas, quanto das áreas desmatadas, e que tem o seu papel na mitigação das mudanças climáticas. Todos os programas, os projetos e as políticas públicas que incentivem essas coisa são muito bem-vindas e estão melhorando o clima.”

Fonte: CNN

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