Feito por estudiosos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), uma pesquisa indicou que o desmatamento é maior perto de estradas – rodovias, ferrovias e outras. Publicada no periódico Science Advances, o artigo analisou a relação entre a vegetação nativa remanescente de seis biomas brasileiros e as infraestruturas de transporte predominantes em cada um deles.
Os pesquisadores estudaram áreas entre um a cinco quilômetros de distância de rodovias, ferrovias e outras estruturas de transporte. Como resultado, foi possível observar que o impacto dessas estruturas é mais prejudicial em ecossistemas remotos e que o país deverá ser afetado pelos planos mundiais de expansão das redes de ferrovia e rodovia, que devem crescer de 36% a 45% até 2050.
O artigo também mostra que os Pampas – localizados no extremo Sul do Brasil – são o único bioma que não cresce ao se distanciar da infraestrutura de transporte, fugindo, assim, do padrão observado nos outros cinco.
Com intuito de encontrar regiões para restaurações ecológicas com resultado imediato, sem que se prejudicasse a propriedade privada de terras, os pesquisadores mapearam regiões desprovidas de estrada. Contudo, esses locais não são distribuídos uniformemente entre os biomas. Isso se tornou um dos principais desafios para o grupo de pesquisadores ao tentar coletar informações mais aprofundadas do Pampa, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal.
Essa alternativa de restauração ajudaria a bater as metas de conservação propostas atualmente pelo Governo Federal e no melhoramento de políticas de proteção à essas áreas.
Nas áreas classificadas livres dessas infraestruturas, apenas 38% da vegetação encontrada é protegida por algum meio legal, seja por unidades de conservação ou terra indígena – que segundo o estudo, junto de territórios quilombolas, têm participação direta na conservação da fauna e flora de cada ecossistema.
Esse dado é preocupante, pois são nessas áreas que estão 81,5% da vegetação nativa remanescente do país e espera-se que 90% das futuras rodovias passem por regiões com ecossistemas praticamente intocados.
“Temos um planejamento de transporte que não é transparente e que não considera questões ambientais desde o início”, comenta a coautora do estudo Fernanda Teixeira, em nota ao Jornal da UFRGS sobre o desinteresse da classe política. Além disso, ela também fala sobre os pontos fracos da política ambiental brasileira.
Para o mesmo jornal, um dos coautores da UFMG, Trevor Tisler, alega que esses planejamentos não mudaram desde a época da ditadura militar. Ele também aponta uma possibilidade de preservação que é o reaproveitamento de estradas já existentes para uma futura expansão de rodovias, para que novos impactos não sejam criados.
Fonte: Revista Galileu