
Um deslizamento de terra em uma central hidrelétrica localizada no único habitat conhecido do, criticamente ameaçado de extinção, orangotango Tapanuli, tirou a vida de três pessoas. Outras nove ainda estão desaparecidas.
É o segundo deslizamento mortal no local nos últimos cinco meses, com o projeto estando em uma área propensa a desastres naturais, incluindo até terremotos.
Ativistas afirmam que os deslizamentos consecutivos são motivo suficiente para que a área seja protegida, ao invés de ser licenciada para projetos de grande escala, como mineração e infraestrutura.
Três pessoas foram declaradas mortas e nove ainda estão desaparecidas após um deslizamento de terra ter atingido a área de uma hidrelétrica no único habitat natural conhecido do, criticamente ameaçado de extinção, orangotango Tapanuli, na Sumatra.
Por volta do meio-dia do último 29 de abril, chuvas fortes começaram a assolar o ecossistema de Batang Toru, na província de Sumatra do Norte. À tarde, uma enxurrada de lama arrastou trabalhadores e moradores que estavam no local.
Em 30 de abril, equipes de busca e resgate encontraram três corpos – uma mulher e duas crianças, todos residentes locais.
Outras nove pessoas ainda estão desaparecidas, entre elas seis habitantes da região e três trabalhadores. Dois dos trabalhadores estavam no local para documentar a enchente quando foram surpreendidos e arrastados pelo deslizamento.
Essa não é a primeira vez que um projeto apoiado pela China é atingido por um desastre. Em dezembro de 2020 uma série de deslizamentos atingiu a área. Um residente local de 38 anos foi arrastado enquanto operava uma escavadeira na tentativa de limpar resquícios de um deslizamento anterior. Mais tarde, a escavadeira foi encontrada rio abaixo, mas o operador, Afuan, nunca foi localizado.
Um relatório sobre os deslizamentos de terras ocorridos em dezembro, em um banco de dados gerido pelo Ministério da Energia e Recursos Minerais, mostra que o local do incidente está em uma área com risco médio a alto de deslizamentos devida a alta pluviosidade, terreno acidentado e má drenagem.
Além do risco de deslizamentos de terra, ativistas ambientais e cientistas também sinalizaram a suscetibilidade da área a terremotos, com o projeto hidrelétrico localizado perto de uma falha tectônica conhecida. Atividades sísmicas, como terremotos e erupções vulcânicas, são comuns em grande parte da Indonésia devido à sua posição no Anel de Fogo do Pacífico, e o norte de Sumatra em particular é um ponto importante para a atividade sísmica. Em 2008, um terremoto de magnitude 6 atingiu uma área localizada a apenas 4 quilômetros (2,5 milhas) do local da barragem planejada.
A maior ONG ambiental do país, o Fórum Indonésio para o Meio Ambiente (Walhi, na sigla em indonésio), disse que os deslizamentos de terras constantes não são uma surpresa; eles ainda afirmam que os ativistas há muito alertam sobre o risco de desastres naturais na área.
Walhi também criticou a falta de um plano adequado de mitigação de desastres na análise de impacto ambiental do projeto hidrelétrico, levantada em um processo anterior que buscava interromper o projeto com base em violações de licença. Walhi disse que desastres são iminentes, pois o projeto fica em um ecossistema frágil e sujeito a catástrofes naturais. Um tribunal rejeitou a ação em 2019.
“É com isso que estamos preocupados e por isso entramos com uma ação judicial e a defendemos [contra o projeto]”, disse Doni Latuperisa, chefe da secção de Walhi na Sumatra do Norte, ao Mongabay. “É o que suspeitamos desde o início, que os projetos de infraestrutura na paisagem de Batang Toru têm o potencial de induzir desastres ecológicos.”
É por isso que a área deve ser proibida para projetos de grande escala, como a barragem hidrelétrica, dizem os ativistas. Além disso, a área também abriga atividades de mineração, incluindo uma mina de ouro operada pela PT Agincourt Resources.
Crucialmente, o ecossistema Batang Toru é também o único habitat natural conhecido do orangotango Tapanuli (Pongo tapanuliensis), a espécie de orangotango mais recentemente descrita e também o grande macaco mais ameaçado do mundo. Hoje, menos de 800 macacos são conhecidos por habitar a floresta Batang Toru, onde ocupam apenas 2,5% de sua distribuição histórica, sua população vem sendo dizimada pela perda de habitat e pela caça.
Doni diz que este é mais um motivo pelo qual todos os projetos de infraestrutura na área deveriam ser interrompidos e avaliados. “Projetos na paisagem de Batang Toru ameaçam o ecossistema e a biodiversidade nele existente”, disse ele. “Especialmente os orangotangos Tapanuli com menos de 800 sobreviventes”.
Um porta-voz do governo local, Ismut Siregar, disse que o deslizamento nada tem a ver com o projeto hidrelétrico. “É preciso enfatizar que este incidente é puramente um desastre natural devido às chuvas intensas por três dias consecutivos”, disse ele. “E, portanto, isso não tem ligação com as atividades na usina hidrelétrica de Batang Toru.”