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Desinformação: Fórum Econômico Mundial não pediu a morte de cães e gatos para conter mudanças climáticas

O Fórum Económico Mundial (WEF, na sigla em inglês) não veio a público pedir para “matar milhões de cães e gatos domésticos para combater as mudanças climáticas”, ao contrário do que afirmam publicações compartilhadas dezenas de vezes desde 12 de dezembro de 2022. À AFP, um porta-voz do WEF desmentiu que o órgão tenha dado tal declaração e tampouco há indícios de uma iniciativa nesse sentido.

31 de dezembro de 2022
4 min. de leitura
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Captura de tela feita em 27 de dezembro de 2022 de uma publicação no Twitter ( .)

“Agenda globalista: ‘O Fórum Econômico Mundial pediu aos tutores de animais domésticos em todo o mundo que sacrificem seus cães e gatos. Esta ideia repugnante emitida pelo WEF apoia a histeria da ONU sobre o corte de dióxido de carbono atmosférico’”, asseguram publicações no Facebook, no Telegram e no Twitter.

As postagens são ilustradas com uma foto de Klaus Schwab, fundador e presidente-executivo do Fórum Econômico Mundial, que tem sido alvo frequente de desinformação com acusações, por exemplo, de ter políticos, mídia, especialistas e cientistas “em seu bolso” e de querer controlar a internet.

Conteúdo semelhante também circula em espanhol, francês e inglês.

Algumas postagens virais são compartilhadas com o link ou a captura de tela de um texto publicado no NewsPunch, que se descreve como um veículo “comprometido em cobrir as notícias que os principais meios de comunicação evitam”. Matérias publicadas nesse site já foram desmentidas em verificações da AFP em diferentes idiomas (1, 2, 3).

De acordo com o texto, o WEF teria “lançado recentemente uma nova e polêmica iniciativa”, na qual pedia “o sacrifício de milhões de cães e gatos em todo o mundo em um esforço para reduzir a ‘pegada de carbono’ que eles produzem como resultado do consumo de carne”.

“A proposta foi recebida com indignação por grupos em defesa dos direitos animais e tutores de animais, que argumentam ser antiético e desnecessário”, continua o texto.

Apesar das críticas, segundo o site, o WEF teria afirmado que “essa medida é necessária porque acredita-se que a redução do número de animais de estimação em todo o mundo ajudará a diminuir o aquecimento global e outros problemas ambientais causados pela superpopulação”. E, além disso, reduziria “a crueldade com os animais, pois será garantido que nenhum animal de estimação virá a ser negligenciado ou vítima de maus-tratos” .

Mas pesquisas do Google usando os termos “Fórum Econômico Mundial + cães + gatos” em português, inglês e espanhol não retornaram resultados indicando que o WEF pediu o sacrifício de animais ou que grupos de direitos animais reagiram ao suposto anúncio.

Buscas em inglês nos perfis do WEF no Facebook e no Twitter, bem como em seu site, não levaram a registros da suposta iniciativa.

Ao contrário, essas buscas mostram que, em outubro de 2021, o Fórum Econômico Mundial divulgou um vídeo dedicado ao impacto positivo dos animais de estimação na saúde mental de seus donos durante o confinamento pela pandemia de Covid-19.

Em agosto de 2019, a organização publicou outro registro em sua página no Facebook mostrando o trabalho de especialistas e empresas na produção de rações à base de insetos, em um esforço para reduzir a produção de carne, que é altamente poluente.

Da mesma forma, em 2017, 2019 e 2020, o site do WEF publicou artigos explicando como a conscientização sobre os impactos da produção de carne nas mudanças climáticas pode levar algumas empresas e proprietários a reavaliarem a dieta de seus cães e gatos, reduzindo suas porções ou procurando alternativas vegetarianas para certos alimentos. Mas nenhuma dessas publicações menciona a ideia de sacrificar os animais.

Consultado pela AFP, um porta-voz do Fórum Econômico Mundial confirmou em 13 de dezembro de 2022 que as informações divulgadas nas redes sociais são “falsas”. “O WEF nunca fez tal declaração”, ou tomou essa iniciativa, disse.

Artigos não pedem para matar animais

Alguns dos conteúdos viralizados afirmam ainda que o WEF “ordenou que a grande mídia começasse a divulgar a narrativa” da suposta necessidade de executar os animais, citando duas reportagens em inglês da CNN e da Bloomberg.

O artigo da CNN , publicado em setembro de 2022, explica a pegada de carbono gerada por cães e gatos, citando um estudo de 2017.

“Os animais domésticos têm um impacto positivo mensurável em nossa saúde física e bem-estar mental”, afirma a matéria da mídia norte-americana.

O texto também dá conselhos para pessoas que desejam diminuir seu impacto climático: “Como regra geral, animais domésticos grandes têm um impacto climático maior do que os filhotes, principalmente porque precisam de mais comida. Portanto, você pode considerar raças ou espécies menores se estiver procurando minimizar o seu impacto no planeta”.

A publicação da Bloomberg, citada pelo portal de extrema-direita Breitbart, é uma coluna de opinião da economista trabalhista norte-americana Teresa Ghilarducci, que não trata das mudanças climáticas, e sim da inflação nos Estados Unidos.

No texto, publicado em 13 de março de 2022, a autora aborda, em um breve parágrafo, o custo da assistência médica para animais de estimação e explica que “os pesquisadores não recomendam a quimioterapia para animais domésticos – que pode custar até 10.000 [dólares] – por razões éticas” , sobre o uso de um tratamento com efeitos colaterais dolorosos e o risco de os animais passarem o resto de suas vidas sofrendo.

Mas nenhum dos dois textos cita o Fórum Econômico Mundial ou aconselha os tutores de animais “sacrificar” seus animais domésticos.

Fonte: Yahoo

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