Desde que entrou no mundo da moda e se formou em design, Luisa Jordá pensava em empreender. Vegetariana há alguns anos, ela decidiu trazer a filosofia de vida para o trabalho e criar uma marca exclusivamente voltada para a produção de sapatos veganos: a Estúdio NHNH. Deu muito certo. A primeira coleção, lançada em dezembro com 80 pares em sete modelos, que custam de R$ 260 a R$ 360, já está esgotada.
Os produtos sem nenhum insumo animal na fabricação – como couro, seda ou lã – são vendidos exclusivamente pela internet. Na produção das peças, são usadas matérias-primas como plástico, borracha e tecidos desenvolvidos a partir de embalagens PET e algodão reciclados, além de outras inovações, como as solas recicladas.
“Ainda não consigo importar insumos como couros de abacaxi e de cogumelo porque minha produção é baixa e os fornecedores não me enviam esses materiais em pequena escala. No Brasil, as pessoas ainda estão se acostumando com essa filosofia vegana”, observa a empresária. “Alguns dos vendedores desses insumos ainda não entendem que um produto que tem 10% de couro animal não é um produto 100% vegano”, reclama.
O vegetariano exclui da dieta todos os tipos de carne. O vegano não consome nada de origem animal, tem filosofia de vida mais engajada. A produção dos calçados é toda artesanal e o número de pares fabricados depende da demanda. A empresária pretende abrir uma loja física para revenda dos modelos, mas ainda não encontrou o que considera “ponto ideal” para o comércio.
Curiosamente, segundo Luisa, grande parte dos compradores não segue a filosofia de vida vegana, mas se identifica com a causa e acaba aderindo à novidade. “É muito mais fácil para as pessoas apoiarem a ideia do outro do que criarem algo. Fiquei surpresa porque esperava um público mais engajado na causa orgânica”, afirma ela.
Lançamentos
A próxima coleção já começou a ser preparada. Luisa pretende lançar até o fim de março mais dez novos modelos veganos e recicláveis. Os destaques ainda são os modelos femininos e unissex, mas a intenção é colocar no mercado uma linha de sapatos sem gênero. “Consigo desenhar e pensar em diversos modelos diferentes. Mas, infelizmente, tenho que pensar que o mercado ainda não tem capacidade de me fornecer os insumos necessários para minhas criações. É um trabalho que vou ajeitando com o tempo”, pondera.
Os cartões e tags que acompanham os produtos do Estúdio NHNH são desenvolvidos em papel- semente. Após o uso, o material pode ser plantado em um vaso ou virar um belo jardim de margaridas. A marca também incentiva a devolução dos sapatos já desgastados e velhos para reciclagem ou descarte adequado.
Inspiração veio da estilista britância Stella McCartney
A mineira Luisa Jordá teve o primeiro contato com criação de sapatos ainda na faculdade. Com referências artísticas na família – o avô, por exemplo, é pintor –, ela logo que começou a desenhar seus primeiros modelos pensou em aperfeiçoar o produto. Em estudos pela Itália, a designer inspirou-se nas coleções de Stella McCartney, filha do músico Paul McCartney. Ela não usa nem couro nem seda nas peças, mas tem criações com lã, já que é vegetariana e não vegana. A estilista europeia fabrica desde roupas de alta costura às casuais, além de bolsas, sapatos e até lingerie.
“Não conheço no Brasil pessoas que façam esse mesmo tipo de trabalho que a Stella faz e que eu estou querendo implementar. Seria ótimo ter concorrência, mais ativistas engajados na causa. Iria fortalecer o mercado e ampliar essa consciência de que o meio ambiente já está saturado e é preciso reciclar”, pontua Luisa.
Os sapatos produzidos pela designer mineira têm destaque por apresentarem linhas mais contemporâneas, que prezam pela beleza, conforto e sofisticação. “A ideia inicial era relacionar o conceito da marca com algo em que realmente acredito: o consumo vegano. A nossa linha de sapatos tem total respeito aos animais e, assim, não os enxerga como seres que existem apenas para nos servir”, complementa.
Fonte: Hoje em dia