Um novo estudo publicado no periódico científico Conservation Biology analisou dados globais de apreensões de animais selvagens de 2010 a 2021 e descobriu que cerca de cinco milhões de cavalos-marinhos foram contrabandeados em uma década.
O valor estimado deste tráfico foi de € 18,5 milhões (R$ 120 milhões), sendo considerado subestimado pelos autores da pesquisa, que se baseiam em dados de notícias e documentos publicados sobre apreensões. Os cavalos-marinhos são transportados vivos e também mortos, já secos, muitas vezes usados com fins medicinais na Ásia, especialmente.
Seja em bagagens ou transportados por cargas marítimas, os registros levantados apontam ocorrências de tráfico descobertas em 62 países.
A pesca, a poluição das águas rasas e a captura cruel são as principais ameaças a esse animal, segundo o Projeto Seahorse, que desenvolveu a pesquisa e atua no Reino Unido e no Canadá. Há poucos dados sobre o estado de conservação das espécies, mesmo na Lista Vermelha da IUCN (União Internacional de Conservação da Natureza).
“O que estamos vendo é apenas a ponta do iceberg”, comentou ao portal Euronews Green a dra. Sarah Foster, pesquisadora associada da University of British Columbia e principal autora do estudo. O Projeto Seahorse estima que ao todo 70 milhões de cavalos-marinhos sejam capturados todos os anos, em 80 países.
Os cavalos-marinhos entram em pelo menos três mercados: medicina tradicional (desidratados), exibição ornamental (vivos, em aquários) e curiosidades (desidratados e vendidos até como chaveiros para turistas). “Essencialmente, os cavalos-marinhos secos – que constituem cerca de 95% do comércio – vêm de todos os tipos de pesca. Todo o comércio de cavalos-marinhos secos é de origem selvagem. Em comparação, os cavalos-marinhos vivos que vêm da natureza são extraídos principalmente pela pesca seletiva em pequena escala. No entanto, hoje em dia, a maior parte do comércio de aquários vem da criação”, observa o Projeto Seahorse.
O comércio internacional de cavalos-marinhos é legal segundo o tratado CITES, um acordo reconhecido por 184 países, que permite a pesca se as licenças comprovarem que a exportação não prejudicará populações selvagens, algo difícil de ser comprovado.
O estudo encontrou valores registrados para cavalos-marinhos apreendidos em apenas 34 casos, mas conseguiu estimar um preço médio de cerca de € 4,50 por animal (cerca de R$ 30).
Aeroportos são os pontos mais comuns de apreensão de cavalos-marinhos traficados,mas os maiores volumes são encontrados em cargas marítimas, um método de transporte frequentemente negligenciado, observa o Euronews Green.
“Todos os países devem intensificar os esforços de dissuasão – um bom trabalho de investigação, uma aplicação determinada [da lei] e penalidades significativas”, afirma ao portal o dr. Teale Phelps Bondaroff, da organização OceansAsia, autor principal do estudo.
Fonte: Um Só Planeta
Nota da Redação: Esses animais delicados, vitais para o equilíbrio dos ecossistemas, são arrancados de seus habitats para fins comerciais fúteis. O impacto dessa exploração vai além das populações dos cavalos-marinhos: é uma afronta aos direitos animais, que sofrem em um sistema que valoriza lucros e conveniências humanas acima da vida. Esse tráfico cruel reflete um sistema que prioriza o lucro sobre o respeito à vida. As práticas de pesca predatória e o comércio legalizado, mascarados sob tratados que raramente garantem sustentabilidade, reforçam o sofrimento e a destruição ambiental. Cada cavalo-marinho arrancado do oceano é um lembrete da nossa desconexão com a natureza. É urgente que abandonemos a exploração e adotemos uma postura de respeito e proteção, não apenas pela sobrevivência dos cavalos-marinhos, mas pela integridade do ecossistema que compartilhamos.