Estudiosos da ictiofauna brasileira descobrem novas espécies de peixes em Mato Grosso, indicando uma relação biogeográfica entre as bacias dos rios Paraguai e Tapajós. Durante uma expedição organizada pela Conservation International (CI), em 2002, através da porção norte das cabeceiras da bacia do rio Paraguai, os pesquisadores Flavio Lima e Heraldo Britski, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), e o ictiólogo e professor do Departamento de Botânica e Ecologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Francisco Machado, descobriram no rio Juba, afluente do rio Sepotuba, uma nova espécie pertencente ao gênero Moenkhausia, relacionada ao grupo de espécies Moenkhausia oligolepis. A descoberta foi anunciada em artigo na revista italiana Aqua, especializada em ictiofauna.
A espécie foi imediatamente considerada como desconhecida da ciência devido a seu padrão de colorido único em vida que combina pigmentação vermelha no lábio superior, olho com metade superior verde brilhante e metade inferior azul brilhante e pela transparência do opérculo, que permite a visão da cor vermelho-rosada dos filamentos branquiais. A ocorrência de Moenkhausia cosmops, ou lambari-maquiado, nas cabeceiras das bacias dos rios Tapajós e Paraguai é o primeiro caso documentado de uma espécie presente exclusivamente nessas duas bacias hidrográficas.
O extenso divisor de águas entre o sistema do alto rio Paraguai e do alto rio Tapajós situa-se na Chapada dos Parecis, um planalto na margem oeste do escudo Brasileiro. Eventos de captura de rios num passado relativamente recente, provavelmente, explicam a ocorrência de uma ictiofauna compartilhada por ambos os sistemas hidrográficos. Esse aparente intercâmbio ictiofaunístico recente é outro exemplo da complexidade da evolução dos atuais padrões de distribuição observados na ictiofauna de água doce da América do Sul.
Do Médio-norte para o Noroeste de Mato Grosso está situado o encontro de duas bacias hidrográficas: Paraguai e Amazônica. O lambari-maquiado foi capturado nas cabeceiras do rio Juba (bacia do Alto Paraguai) e localizado também no complexo do Alto Tapajós/Juruena. Sobrevive em ambientes de igarapés perenes e pequenos ribeirões de águas cristalinas.
Na mesma situação também foi descoberto pelo grupo de pesquisadores o pacu-borracha, capturado no alto rio Juba (bacia do Alto Rio Paraguai) e no complexo Alto Tapajós/Juruena.
“Por coincidência o lambari-maquiado é um bicho novo, mas vários outros peixes foram capturados no Alto Tapajós e também no rio Juruena. No passado todos estavam juntos. Com o rebaixamento dos Andes houve um parte da bacia que foi para a Amazônia e outra para o Paraguai. O Pantanal é uma zona de sedimentação jovem e nas cabeceiras foi onde ocorreram as duas capturas. Você não encontra o lambari-maquiado na parte baixa devido às condições ecológicas em que ele sobrevive, águas claras e corredeiras”, explica o professor doutor em ecologia Francisco Machado.
Fonte: Gazeta Digital