O desaparecimento de geleiras ao redor do mundo deve atingir um pico histórico até metade deste século, com a perda anual de até 4.000 geleiras, segundo um estudo publicado na revista Nature Climate Change. A pesquisa mostra que a velocidade e a intensidade desse processo variam diretamente de acordo com o grau de aquecimento global nas próximas décadas e que limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C pode preservar mais que o dobro de geleiras até 2100 em comparação a cenários mais extremos.
O estudo analisou o comportamento de mais de 200 mil geleiras em diferentes regiões do planeta e aponta que o mundo está se aproximando de um ponto de inflexão, no qual o desaparecimento dessas massas de gelo deixa de ser gradual e passa a ocorrer em ritmo acelerado.
O que é o pico de extinção das geleiras?
Os pesquisadores introduziram o conceito de “pico de extinção das geleiras” para descrever o ano em que o maior número de geleiras individuais desaparece globalmente. Diferentemente da perda de volume ou área total de gelo, esse indicador mede quantas geleiras deixam de existir por completo a cada ano.
De acordo com os modelos, esse pico ocorrerá por volta de 2041 caso o aquecimento global seja limitado a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, com cerca de 2.000 geleiras desaparecendo anualmente. Em um cenário de aquecimento de 4,0 °C, o pico acontece mais tarde, em meados da década de 2050, mas com um impacto muito maior: até 4.000 geleiras perdidas por ano.
Os resultados mostram que não apenas a quantidade de gelo diminui, mas que milhares de geleiras menores simplesmente desaparecem por completo, especialmente em regiões onde elas já são mais frágeis.
Quais regiões devem ser mais afetadas primeiro?
Regiões dominadas por geleiras pequenas, como os Alpes Europeus e os Andes Subtropicais, devem enfrentar os impactos mais cedo. Nessas áreas, os modelos indicam que até metade das geleiras pode desaparecer nas próximas duas décadas.
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Já regiões com geleiras maiores, como a Groenlândia e a periferia da Antártida, tendem a atingir o pico de desaparecimento mais tarde, no final do século. Ainda assim, o estudo ressalta que mesmo essas áreas não estão imunes à aceleração da perda de gelo em cenários de aquecimento mais intenso.
Por que o desaparecimento das geleiras importa?
Além da contribuição para a elevação do nível do mar, o desaparecimento de geleiras tem implicações diretas para ecossistemas, disponibilidade de água doce e patrimônio cultural. Em muitas regiões, geleiras são fontes essenciais de água para populações rio abaixo, especialmente durante períodos secos.
O estudo também destaca que geleiras têm valor cultural, espiritual e econômico para diversas comunidades, além de atrair milhões de turistas todos os anos. A perda dessas formações representa, portanto, impactos ambientais e sociais combinados.
Embora futuras pesquisas possam refinar as projeções, o estudo deixa claro que o ritmo do desaparecimento das geleiras não é inevitável; ele responde diretamente às políticas de redução de emissões adotadas nas próximas décadas.
Fonte: Revista Veja