Para obter a licença para um poço de combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas, a Petrobras afirma que nunca registrou acidentes na fase de exploração. Mas a própria petrolífera teve de interromper a perfuração de um poço na região em 2011 por causa de fortes correntes, o que provocou vazamento de fluidos e gerou multas que ainda não foram pagas. Sem falar na própria simulação feita pela empresa no processo de licenciamento, que mostrou que o petróleo vazado no bloco 59 pode atingir a costa de oito países.
Ainda assim, e mesmo falhando em socorrer a fauna na Avaliação Pré-Operacional (APO) no bloco, a Petrobras está perto de obter a autorização do IBAMA para abrir o poço, após muita pressão política para isso. Contudo, um estudo publicado na Nature Sustainability mostra que o estrago de um vazamento de petróleo na Foz pode ser muito maior do que se previa.
A pesquisa afirma que um vazamento na Foz pode ter consequências muito mais graves do que as do acidente com a plataforma Deepwater Horizon, da BP, em 2010, informam O Globo e Blog do Pedlowski. Mais de 3 milhões de barris de petróleo foram despejados de um poço no Golfo do México, vazamento que levou cerca de cinco meses para ser plenamente contido. Foi um dos piores desastres ambientais da história da indústria de combustíveis fósseis.
O trabalho foi articulado pelas universidades federal e estadual do Amapá (UNIFAP e UEAP), com colaboração do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade Autônoma de Madri, na Espanha. Os cientistas reuniram estudos feitos na Foz do Amazonas e em sua área de influência, incluindo uma avaliação da UNIFAP sobre vulnerabilidade de recursos biológicos. Os estudos analisados avaliaram mais a região de hidrovia do Rio Amazonas do que a porção marinha na transição do estuário, simulando vazamentos de óleo com modelos matemáticos.
Os pesquisadores ainda avaliaram literatura acadêmica que considerou potenciais vazamentos de poços a grande profundidade. É outro ponto de preocupação na Foz, junto com as correntes marinhas cruzadas na região.
“Enquanto a Corrente Norte do Brasil, na superfície, flui para o norte, outra corrente, que começa a 201 m de profundidade, flui para o sul. Entre as consequências das correntes fortes e complexas na área está a dificuldade que isso representa para controlar potenciais vazamentos”, afirma a pesquisa. “A profundidade de 2,88 km no local é o dobro da profundidade de 1,5 km no local do vazamento de petróleo da Deepwater Horizon, que exigiu muitas tentativas ao longo de um período de cinco meses para ser contido”, completou.
Apesar dos blocos que a Petrobras pretende explorar serem relativamente longe do delta do rio Amazonas, eles ainda estão dentro da zona de influência da foz, afirmam os cientistas. Assim, dependendo da variação na vazão do rio, as correntes podem ora rumar para o Atlântico Norte, ora correr de volta para dentro do rio em sua região de estuário. Situação plenamente alardeada por especialistas, mas que a Petrobras e os defensores da exploração de petróleo na Foz insistem em ignorar.
Fonte: ClimaInfo