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LITORAL BRASILEIRO

Depois de cocaína, pesquisadores encontram contaminantes presentes em celulares em tubarões

15 de agosto de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Getty Images

Em julho, um estudo publicado no periódico Science of the Total Environment revelou a presença de cocaína nos músculos e fígados de 13 tubarões da espécie Rhizoprionodon lalandii, popularmente conhecida como tubarão-bico-fino-brasileiro, nas águas da costa do Rio de Janeiro. Agora, outro trabalho mostrou que tubarões-tigre na costa sul do Brasil têm ingerido grandes quantidades de contaminantes encontrados em celulares, carros elétricos e outros tipos de tecnologia.

Esses contaminantes incluem elementos de terras raras, um conjunto de 17 metais naturais que fornecem energia. “Ninguém está falando sobre isso”, disse Natascha Wosnick, cientista-chefe do programa de pesquisa e conservação de tubarões no Cape Eleuthera Institute, à National Geographic. “Não sabemos nada sobre como isso pode afetar a saúde deles.”

Wosnick e sua equipe analisaram 12 tubarões-tigres capturados por pescadores artesanais na costa do sul do Brasil, no estado do Paraná, em 2021 e 2022, e encontraram em seus cérebros, olhos, rins, guelras, pele, dentes, músculos, corações e fígados um subconjunto de nove elementos de terras raras, além de titânio e rubídio.

Ainda não se sabe como eles absorveram estas moléculas. A dificuldade vem da escassez de dados sobre terras raras em ambientes marinhos e, também, dos movimentos imprevisíveis dos tubarões-tigre em geral.

Mas, segundo a NatGeo, há duas possíveis fontes humanas dos elementos de terras raras encontrados nos tubarões. Uma tem a ver com a mineração – terras raras e outros elementos minerados no continentes podem estar chegando ao oceano por meio de rios e córregos. A outra, mais provável, é que os elementos venham do descarte não regulamentado de tecnologia, devido à alta população humana ao longo da costa.

A cientista do Cape Eleuthera Institute Wosnick salientou que, como os tubarões-tigre comem praticamente tudo, incluindo sapatos, placas de veículos e pneus, eles podem estar ingerindo celulares descartados e outros dispositivos que contêm os elementos.

Também é possível que algumas das terras raras não venham de indústrias humanas. Segundo Marc Amyot, biólogo da Universidade de Montreal e presidente canadense de pesquisa em ecotoxicologia e mudança global, como os elementos ocorrem na natureza – são relativamente comuns na crosta terrestre –, podem simplesmente aparecer na água em certos níveis.

O que também não se sabe ainda é o efeito desses elementos nos tubarões. Amyot, que não esteve envolvido na pesquisa, indicou à reportagem que as concentrações provavelmente precisariam ser muito maiores para serem letais.

Mas, mesmo sem óbitos, Wosnick pontuou que os contaminantes podem estar causando estresse oxidativo no fígado, e isso pode afetar a capacidade de caça e a reprodução. Outra preocupação relacionada à descoberta é que, como tubarões são consumidos no Brasil, as terras raras poderiam chegar aos humanos.

Todo esse problema provavelmente crescerá à medida que as terras raras e os dispositivos que as requerem continuem a serem produzidos e posteriormente descartados em locais inapropriados. Além disso, há o fato de a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, a agência intergovernamental da ONU que faz regras sobre o fundo do oceano, estar considerando permitir a mineração em alto mar, incluindo a extração de terras raras.

Fonte: Um Só Planeta

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