O Zoológico de Luján, nos arredores de Buenos Aires, ficou internacionalmente conhecido por permitir que visitantes tocassem e posassem para fotos com leões, tigres e outros animais selvagens. A prática, amplamente criticada por especialistas, foi acompanhada por anos de denúncias de maus-tratos e irregularidades. Em 2020, depois de longa pressão pública, o governo argentino determinou o fechamento do local.
Com a suspensão das atividades, dezenas de animais ficaram abandonados dentro do antigo zoológico. Sem supervisão veterinária, sem estrutura adequada e com acesso irregular a comida e água, muitos passaram a viver em sofrimento extremo. Um pequeno grupo de tratadores tentou manter os sobreviventes vivos, mas a falta de recursos tornou impossível oferecer cuidados básicos. Vários animais morreram por desnutrição, infecções não tratadas, ferimentos e níveis elevados de estresse. As condições de confinamento eram alarmantes, com jaulas de apenas três metros quadrados onde até sete leoas eram mantidas juntas. Em outras celas, dois tigres dividiam um espaço reduzido com dois leões, situação totalmente incompatível com qualquer parâmetro de bem-estar.
O longo período de abandono mostrou falhas graves nas regras argentinas para a manutenção de animais silvestres e na ausência de um plano governamental para realocação imediata após o fechamento. Somente em julho de 2024 houve um avanço significativo quando a ONG internacional Four Paws firmou um acordo com o governo para assumir os cuidados dos sobreviventes. O grupo inclui 32 leões, 30 tigres e dois ursos. A iniciativa integra um esforço maior para encerrar a posse privada de grandes felinos, combater o comércio ilegal e promover mudanças estruturais no país em relação ao bem-estar animal.
Nos meses seguintes, equipes especializadas da Four Paws realizaram exames de saúde, intervenções emergenciais, estabilização nutricional e planejamento de alternativas de longo prazo. Muitos animais chegaram com dentes quebrados, ossos fragilizados, parasitoses e distúrbios comportamentais graves decorrentes do confinamento severo.
Entre os primeiros a deixarem o local estão Gordo e Florencia, os dois ursos resgatados. Eles devem iniciar uma nova etapa no Santuário de Ursos Belitsa, na Bulgária, onde finalmente poderão explorar áreas arborizadas, nadar, receber cuidados adequados e até hibernar, algo que nunca puderam fazer no zoológico.
A Four Paws considera este resgate um dos mais complexos de sua história. A organização afirma que a operação representa não apenas a chance de recuperação dos animais sobreviventes, mas também um passo essencial para impedir que tragédias como a do Zoológico de Luján voltem a ocorrer.