Nos corredores, no estacionamento e até nas portas das lojas. Por todos os lados por onde se anda no Mercado Novo, no Centro de Belo Horizonte, é impossível não esbarrar com um gato, ou vários. São cerca de 80 animais vivendo nos três andares do estabelecimento, segundo a direção do Mercado. A situação, que sempre dividiu a opinião dos comerciantes que trabalham no local, se agravou nas últimas semanas quando começaram a surgir denúncias de que vários desses animais estariam sendo mortos com requintes de crueldade.
As denúncias apontam que os gatos estão sendo envenenados e tendo o pescoço torcido. Uma pessoa que trabalha no Mercado, e que preferiu não se identificar, relatou que, nas últimas três semanas, vários animais que viviam no local desapareceram. Dias depois, alguns desses animais foram encontrados no lixo.
“Alguns gatos foram aparecendo mortos no lixão. E são gatos que estavam bem de saúde, e que comeram veneno que jogaram para eles. Outros gatos também apareceram mortos com o pescoço quebrado, e na maioria são filhotes”, relata o denunciante, que complementa. “É quando o Mercado fecha, à noite, que acontecem as maldades”, diz.
Outra pessoa que também trabalha no mercado conta que, de um dia para o outro, vários filhotes que ele abrigava em sua loja desapareceram. Ele acredita que os animais tenham sido assassinados por outros comerciantes que não concordam com a grande quantidade de gatos no Mercado Novo. “Eram 16 gatos recém-nascidos que estavam na minha loja porque a mãe deles foi envenenada. Quando eu fui ver no outro dia, só nove filhotinhos estavam lá. O que nós ficamos sabendo é que eles foram mortos”, contou.
A situação é investigada pela Polícia Civil, que esteve no Mercado Novo nesta terça-feira para ouvir testemunhas. O inquérito policial está a cargo da Delegacia Especializada em Investigação de Crime Contra a Fauna (Dema).
Procurada, a direção do Mercado Novo disse que permite a presença dos animais e que faz um controle da natalidade dos gatos. Sobre a investigação de maus-tratos, o Mercado disse que vai cooperar com a apuração.
Comerciantes se dividem
O comerciante Sinval Lopes, que está há 35 anos no Mercado Novo, é contra a presença massiva de gatos no local. Para ele, a solução deveria ser o controle dos animais, e não a morte.
“A gente é contra qualquer tipo de maldade que fazem, mas é preciso um controle. Aqui, na hora do almoço, é insuportável. Os gatos não param de incomodar e dão prejuízo mesmo”, reclama”.
“Absolutamente inadmissível”
Autor da Lei Sansão, sancionada em 2020, o deputado federal Fred Costa (Patriota) classificou o que vem ocorrendo no Mercado Novo como algo “aboslutamente inadmissível”.
“Aquele espaço que deve ser um espaço de convívio, de comércio, de lazer, de vida, infelizmente tem sido capa dos jornais pela morte de felinos com requintes de crueldade. Nós não vamos admitir isso em hipótese alguma. A nossa equipe já provocou, já enviou ofício para o DEMA, que é a Delegacia Especializada de Defesa e Proteção dos Animais, a fim de que tome todas as providências de investigação o quanto antes, inclusive sugerindo que sejam utilizadas as câmeras de segurança para que possamos chegar nesses covardes, bandidos, que estão matando esses gatos, e possam ter pena exemplar, de acordo com a Lei de nossa autoria, a Lei Sansão, que prevê cadeia para maus-tratos”, disse ele.
Costa ainda ressaltou que esse tipo de crime é abominável, além de cruel e perverso. “Esses crimes em particular ainda contam com requintes de crueldade, perversidade, na medida em que até estão degolando o pescoço dos gatos. Isso para mim é abominável. Nós não vamos aceitar e estamos ao lado da delegacia especializada a fim de que possamos prender esses bandidos”, afirmou.
A Lei Sansão, sancionada em 2020, aumentou a pena para maus-tratos aos animais. O crime passou a ser punido com reclusão de dois a cinco anos, multa e proibição de guarda. Antes, a pena era de três meses a um ano de detenção e multa.
Prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que a equipe de Zoonoses da regional Centro-Sul faz vistorias no local para verificar a situação dos animais, “além de repassar orientações a respeito dos cuidados necessários para reduzir o risco de transmissão de doenças”, informou.
Ainda segundo a PBH, uma reunião está prevista, nesta semana, com os responsáveis pelo local para articular ações em conjunto.
Fonte: O Tempo