(da Redação)
O Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos confirmou na última sexta-feira que o dentista Walter Palmer está cooperando na investigação sobre a morte do leão Cecil. O Serviço havia emitido uma demanda pública para que Palmer entrasse em contato com a instituição, de acordo com reportagem do Daily Mail.
A agência norte-americana afirma que foi voluntariamente contatada por um representante de Walter Palmer, que assinalou o desejo do dentista de cooperar com a instituição. O Serviço afirma que “aprecia a colaboração” e acrescentou que a investigação está em curso.
Tudo indicava que Walter Palmer estava desaparecido, antes de entrar em contato com o Serviço, diante da notoriedade mundial que o caso ganhou. Depois de receber dezenas de milhares de “ameaças”, o dentista fechou sua clínica odontológica e não foi mais visto em sua casa no estado norte-americano de Minnesota.
Na sexta-feira, o governo do Zimbábue fez seu primeiro pronunciamento público sobre o episódio, confirmando que quer a extradição do dentista para que responda perante a justiça zimbabuana.
“Queremos que ele seja julgado no Zimbábue porque ele violou nossas leis (…) O processo já teve início,” segundo Oppah Muchinguri, ministra do meio-ambiente. “Infelizmente, era tarde demais para capturar o caçador estrangeiro, porque ele já tinha fugido para o seu país de origem. Estamos apelando às autoridades responsáveis, pela sua extradição para o Zimbábue para que possa responder judicialmente.”
Walter Palmer divulgou um pronunciamento na semana passada, em que declara que “confiou nos guias para garantir que a cacada era “legal”. Dois zimbabuanos (um caçador profissional e um proprietário de fazenda) estão presos por seu envolvimento no assassinato do leão.
O episódio chamou atenção mundialmente. Na semana passada, a Assembleia Geral da ONU adotou unanimamente uma resolução que tem como objetivo combater a caça e o tráfico de animais selvagens (Gabão e Alemanha vinham pressionando pela aprovação da medida).
“Estamos muito felizes com a decisão da Assembleia Geral, que nos ajudará a proteger a vida selvagem, a fauna e a flora,” segundo um representante do secretário geral Ban Ki-moon.
Alega-se que Palmer feriu o leão no dia 1 de julho, nas redondezas do parque nacional Hwange, depois que o animal foi atraído para uma propriedade particular com o uso de uma carcaça, segundo autoridades zimbabuanas. Após 40 horas de perseguição, o animal ferido foi localizado e assassinado por Palmer com uma arma.
“Houve indignação. Mais de 500 mil pessoas estão pedindo pela extradição, e nós precisamos desse apoio,” conta Muchinguri. “Já falei com as autoridades da força policial que são responsáveis por prender o criminoso.” Segundo a ministra, tanto Palmer, quanto o caçador profissional Theo Bronkhorst violaram a Lei de Parques e Vida Selvagem.
Palmer teria pago 50 mil dólares para caçar o leão Cecil, o que também viola a lei em questão. O proprietário do terreno onde se deu a caçada também teria descumprido a lei, porque “permitiu que a caçada acontecesse sem a autorização necessária.”
Existe um tratado de extradição entre Zimbábue e Estados Unidos, mas as embaixadas dos países ainda não se pronunciaram sobre o tema. “Estamos tentando outros meios,” conta Richard Chibuwe, chefe da missão diplomática zimbabuana em Washington. “Pedir a extradição seria o último recurso.”
A ministra Michiguri acusa Palmer de tentar “macular a imagem do Zimbábue e agravar as relações entre Zimbábue e Estados Unidos,” já que os dois países entraram em alguns conflitos ao longo dos últimos anos.
O país situado no sul do continente africano acusa os Estados Unidos pelo seu declínio econômico, argumentando que as sanções norte-americanas contra o presidente Robert Mugabe teriam prejudicado a economia local. No passado, os Estados Unidos impuseram penalidades ao Zimbábue por supostas violações aos direitos humanos. O presidente Mugabe vem lutando há muito tempo contra o que chama de “interferência ocidental” na África, afirmando que se trata de uma herança do colonialismo no continente.
As autoridades interessadas na extradição de Walter Palmer não especificaram as acusações sob as quais está sendo procurado, descrevendo-o apenas como “cúmplice em caca ilegal.” Assim, não está clara a qual pena o dentista estaria sujeito, caso seja julgado e condenado.
O caçador profissional Bronkhorst, que estava detido no país africano, foi liberado após pagar fiança de 1000 dólares. Se condenado, pode pegar até 15 anos de prisão.
Palmer escreveu um comunicado aos seus pacientes. “Eu entendo e respeito que as pessoas têm opiniões diferentes sobre caçadas,” afirmou, assegurando-os de que voltaria à prática odontológica assim que possível.
A cabeça do leão, que foi removida pelos caçadores, foi confiscada pelas autoridades de conservação do Zimbábue. As agências afirmam que não há relatos de que os filhotes de Cecil tenham sido mortos por machos rivais, como inicialmente temiam defensores de animais e pessoas solidárias de todo o mundo. “Achamos que os filhotes ainda estão por aí na savana,” segundo um porta-voz, que contou também que as agências de conservação não planejam nenhuma missão de resgate.