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BEM-ESTAR

Demência em cães e gatos idosos exige atenção e cuidados especiais

A demência afeta muitos idosos, sejam eles humanos, sejam animais. Em animais, essa condição pode impactar significativamente na qualidade de vida e na dinâmica da casa

2 de fevereiro de 2025
Loanne Guimarães
5 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Assim como com os humanos, os animais podem sofrer com demência ao longo dos anos de vida, e em, casos mais graves, desenvolvem uma condição denominada síndrome da disfunção cognitiva (CDS), acometida em sua maioria em cães e gatos idosos. Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e publicado na revista Scientific Reports, concluiu que as chances de um cachorro ter demência, por exemplo, aumentam mais de 50% a cada ano de idade do animal.

Algumas mudanças comportamentais são esperadas com o envelhecimento do animal, assim como os humanos. De acordo com Francisco Resende, professor do curso de medicina veterinária do Centro Universitário Uniceplac, quando esses sinais “esperados” se associam a outros simultaneamente, persistem e se agravam, podem indicar um quadro de demência.

A melhor ajuda que o tutor pode oferecer ao animal, nesses casos, é a avaliação veterinária para distinguir entre envelhecimento normal e a síndrome da disfunção cognitiva, que podem apresentar sintomas semelhantes. “Por exemplo, um cão idoso pode ter energia reduzida e se apresentar mais apático, mas, se associado a isso, ele também apresenta desorientação constante e deficits de aprendizado, isso pode sugerir um quadro de disfunção cognitiva”, explica.

Os animais debilitados apresentam uma neurodegeneração progressiva que se reflete no comprometimento das capacidades cognitivas, que podem ser comparados a sintomas humanos, explica Fernando Resende, veterinário neurologista e geriatra animal. “Há semelhanças significativas entre a doença em animais e a doença de Alzheimer em humanos, pois ambas as condições envolvem processos neurodegenerativos. Contudo, não devemos chamar a SDC de Alzheimer porque, apesar das semelhanças, há diferenças importantes entre as duas condições.”

Estimulação

A estimulação cognitiva é essencial para animais com demência, pois ajuda a manter a mente ativa e a retardar o avanço da doença. Brinquedos interativos e chamativos são ótimas opções para estimular o cérebro do animal. Introduzir desafios graduais, como percursos de obstáculos adaptados ou esconderijos de alimentos, também promove a exploração e a interação, contribuindo para o bem-estar mental e emocional do animal.

Francisco Resende sugere que algumas adaptações sejam feitas para melhorar a dinâmica e facilitar a vida do animal debilitado. Mantenha uma rotina consistente, pois horários fixos para alimentação, passeios e descanso ajudam na orientação do animal; remova obstáculos, evite mudanças na disposição dos móveis e garanta que recursos como água e comida estejam facilmente acessíveis; tente diminuir os ruídos e as situações estressantes que possam aumentar a ansiedade deles.

Pequenas adaptações foram feitas na casa da Mariana Cabral, psicóloga e tutora da Mel, de 17 anos. A cadelinha apresentou comportamentos como comer um pouco de ração, sair e, em poucos minutos, voltar para comer novamente, repetindo pelo menos três vezes esse processo, como se tivesse esquecido que já havia se alimentado, conta Mariana. “Com isso, evitamos deixar as portas abertas, deixamos os potes de água sempre no mesmo lugar e programamos uma rotina bem definida para ela, com horários para comer e dormir.”

Dedicação

O cuidado com um animal com demência não é nada fácil, imagina com dois. Esse foi o caso da médica Giorgia Picoli, que adotou uma cadela que já sofria com a disfunção e que precisava de muitos cuidados. “A Dora já estava em um estágio avançado, então em nenhum momento a gente teve conexão, porque ela nunca soube quem eu era. Eu a adotei em abril e tivemos que fazer eutanasia em agosto, pois ela já não se levantava, não comia nem bebia água”, conta.

Já o segundo caso foi diferente. Na casa da Giovana já morava Dora e Estrela, sua outra cadela, quando Café chegou para somar. Café foi atropelada, deixada na rua e precisou fazer uma cirurgia, mas ficou paraplégica. O primeiro sinal de demência notado pela tutora foi a inversão, na qual a cadela começou a trocar a noite pelo dia. “A minha rotina mudou 100%, mas mudou por amor. Passei três meses acordando duas ou três vezes de madrugada, porque ela acordava, também levantava bem cedo, de manhã, para conseguir dar as medicações a ela. Mas não faria nada diferente do que eu fiz.”

Lidar com a demência em animais exige paciência e empatia. “O meu conselho é, não pense no fim, mas se o fim parecer próximo, pense no conforto dele e não no seu”, sugere a médica veterinária Vanessa Seabra.

Cannabis como tratamento

O canabidiol e o tetraidrocanabinol, substâncias encontradas na cannabis, surgem como uma alternativa ou complemento no tratamento da demência em animais. Normalmente, cães com mais de 8 anos e gatos acima de 11 anos são os que mais se beneficiam, segundo Vanessa Seabra, veterinária e pesquisadora EndoCanabinologia.

Um dos principais desafios para o uso desse tipo de terapia é ainda a falta de estudos na área. “Um dos maiores problemas é a falta de regulamentação e de produtos específicos para o uso da cannabis em animais, e poucas pesquisas na área, o que dificulta saber exatamente a quantidade e como usar de forma segura”, afirma Vanessa.

Os riscos colaterais existem, como na maioria dos tratamentos, e devem ser observados, principalmente em cães, que são mais sensíveis, e animais com riscos cardíacos. “Se usados em doses altas, podem levar à perda de equilíbrio, ao sono excessivo, a vômitos e, em casos graves, à intoxicação.”

Atenção aos primeiros sinais

Os primeiros sintomas observados em cães e gatos, segundo o veterinário  Francisco Resende são:

  • Desorientação: os animais podem parecer confusos em ambientes familiares, perderem-se em casa ou ficarem presos atrás de móveis e portas. Muitos apresentam andar compulsivo e vocalização.
  • Alterações no ciclo do sono: padrões de sono irregulares, como insônia noturna e sonolência diurna.

  • Mudanças na interação social: diminuição do interesse por interações com tutores ou outros animais, ou aumento de comportamentos ansiosos.

  • Perda de hábitos de higiene: passam a urinar ou defecar em locais inadequados, muitas vezes, em sua própria cama ou em local de repouso.

  • Alterações na atividade física: andar sem rumo, inquietação ou diminuição da atividade.

Doenças sistêmicas, condições metabólicas, endócrinas, cardiológicas e oncológicas podem afetar a função neurológica. O indicado quando se observa comportamentos atípicos no animal, é consultar um veterinário. O diagnóstico precoce pode auxiliar no tratamento.

Fonte: Correio Braziliense

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