Por Adriane R.O. Grey (da Redação – Austrália)
Nesta semana, a Animals Australia convocou seus membros e simpatizantes para apoiarem uma ação urgente contra a caça aos patos selvagens em 3 estados do país.
Esta atividade ainda acontece anualmente, entre março e maio, nas belas áreas úmidas dos estados de Victoria, South Australia e Tasmania, na Austrália. Milhares de aves nativas são abatidas a cada ano, transformando estas áreas alagadas em cenário de uma atividade brutal e muito sofrimento.
Os três governos estaduais ainda permitem a continuidade da caça às aves, mesmo com a população de patos já tendo diminuído drasticamente devido à redução das áreas úmidas por causa da seca e da mudança climática. O número de patos selvagens diminuiu 82% nos últimos 26 anos na costa leste australiana, tornando esta atividade indiscutivelmente insustentável. Com estes números, a proibição da caça aos patos selvagens passa a ter fundamental importância na agenda ambiental do país.
Os estados de Queensland, New South Wales e Western Australia já a baniram também devido ao extremo sofrimento por que passam as aves. A caça não apenas dizima um grande número de indivíduos, mas estima-se que, em cada 4 animais, 1 escapa ferido e é submetido a longos períodos de sofrimento intenso.
No entanto, como o pato selvagem é uma ave migratória, a proibição da atividade somente em 3 estados não é efetiva para a proteção da espécie. Para que isso aconteça, as poucas áreas úmidas preservadas do sul do país precisam transformar-se em santuários para estas aves e não em zona de extermínio, ano após ano.
Em 2008, um grupo do Partido dos Trabalhadores chamado Membros Contra a Caça aos Patos [ALP MoDS – Australia Labour Party, Members Opposed to Duck Shooting] – http://www.alpmods.green.net.au/letterALP.html) juntamente com ONGs pertencentes a diferentes estados do país produziram uma Declaração Nacional de Posicionamento Comum [National Common Position Statement] em que exigiam do governo federal:
■ adotar e implementar uma política nacional que tornasse permanentemente extinta a caça aos patos selvagens;
■ adicionar uma emenda ao Ato de Proteção Ambiental e Conservação da Biodiversidade de 1999 que garantisse a proibição da caça esportiva de patos nativos em território nacional nos pontos chamados RAMSAR, estabelecidos pela “Convenção sobre as Zonas Úmidas de Importância Internacional, especialmente enquanto «Habitat» de Aves Aquáticas”, também conhecida como Convenção de Ramsar [The Convention on Wetlands, Ramsar, Irã, 1971];
■ trabalhar em cooperação com os diferentes estados e território para alcançar um acordo intergovernamental em que as administrações estaduais legislassem num sentido de extinguir permantemente a caça esportiva dos patos selvagens.
No último dia 7 de outubro, a Sociedade Real para a Prevenção contra a Crueldade a Animais [RSPCA ‒ Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals] e a Coalisão Contra a Caça aos Patos [Coalition Against Duck Shooting] apresentaram uma petição contendo 30.000 assinaturas ao deputado Carlo Carli do Partido dos Trabalhadores, antes das eleições estaduais de novembro.
O deputado afirmou que, embora não esteja certo de que haja mudança antes das eleições, tem muita esperança que a caça aos patos chegue ao fim num intervalo de 2 anos. Ele acredita que a opinião pública transformou-se e que os caçadores de patos não têm mais argumentos para pedir sua continuidade.
O presidente da RSPCA de Victoria, Hugh Wirth, afirmou que a única maneira de acabar com a crueldade contra as aves aquáticas é proibindo a caça dos patos e espera que a petição de 30.000 pessoas cause nos políticos o impacto esperado.
Wirth acrescentou que, apesar dos esforços para educar os caçadores, muitas outras aves já protegidas pela legislação ainda são usadas como alvo para caça, alastrando o sofrimento também a outras espécies. No entanto, ele afirma, diminuiu aproximadamente de 100.000 para 22.000 o número de caçadores registrados em Victoria desde que as campanhas começaram e principalmente depois que elas se intensificaram em anos recentes. A prática está se tornando “socialmente inaceitável”.
Wirth explica que há ainda, no entanto, grande oposição política à proibição da caça proveniente tanto do Partido Liberal quanto do Partido dos Trabalhadores. Diferentes governos deixaram, efetivamente, a questão dos direitos animais para trás quando administraram o estado de Victoria.
Enquanto segue a luta no papel, grupos de resgate enfrentam os caçadores no corpo a corpo. Na manhã da abertura da temporada de caça, integrantes da equipe de resgate, que conta com um grande número de voluntários, entram na água de caiaque ou a pé para remover as aves antes que os caçadores cheguem.
Pássaros encontrados feridos são recolhidos e levados a clínicas veterinárias móveis distribuídas pela área.
Os integrantes da equipe usam camisetas brancas ou de cores vivas para que as aves, ao enxergá-los, alcem um vôo mais alto e, desta maneira, possam detectar também os caçadores camuflados. Normalmente, uma vez acançada boa altura de vôo, os pássaros a mantêm, saindo da mira das armas. As camisetas também servem para assegurar a visibilidade dos integrantes da equipe de resgate na água, evitando que os caçadores atirem em sua direção.