Por Adriane R.O. Grey (da Redação – Austrália)
A Libertação Animal da Austrália [Animal Liberation] está pedindo o apoio de ativistas e simpatizantes para três de seus membros que serão julgados nesta segunda-feira, 6 de setembro, por terem registrado em material fotográfico e audiovisual o tratamento dado aos animais em uma fazenda de produção suína no estado de Nova Gales do Sul [New South Wales] e terem levado as evidências reunidas à polícia.
Diana Simpson, Mauro Grassi (um dos diretores da Libertação Animal) e Tully James investigaram a fazenda Windridge e registraram os padrões de criação e as condições de vida dos animais em foto e vídeo, cujos direitos o suinocultor reclama para si numa tentativa de impedir que as imagens obtidas pelos ativistas cheguem ao público.
A decisão judicial decorrente deste conflito será extremamente importante para a luta que a Libertação Animal trava há 30 anos no estado. A organização já esteve envolvida em inúmeras investigações, protestos e atos que revelaram à população australiana a crueldade envolvida na suinocultura intensiva.
Um dos atos mais comuns promovido pela Libertação Animal é o chamado sit-in, em que os manifestantes entram nos galpões onde os animais estão instalados e literalmente se sentam perto deles por tempo indeterminado.
Foi por meio de um sit-in que a organização revelou uma das mais cruéis fazendas de suinocultura, localizada no município de Scone, interior do estado de Nova Gales do Sul, cujo proprietário era Paul Keating, anterior primeiro-ministro australiano pelo Partido dos Trabalhadores. Juntamente com o filósofo e professor de bioética Peter Singer, 33 pessoas amarraram-se às grades das gaiolas de gestação onde estavam as porcas e sentaram-se exatamente em frente aos animais acorrentados. Dois dias depois do ato de protesto, o então ministro das Indústrias Primárias [Ministry for Primary Indutries], Richard Amery, proibiu a prática de amarrar animais numa resposta direta à ação da Libertação Animal.
Em 1996, o Honorável Richard Jones MLC, membro do conselho legislativo, e 34 ativistas entraram e sentaram-se nas instalações da fazenda BUNGE, a maior de suinocultura do hemisfério sul, ato que resultou em um investimento de milhões de dólares por parte da empresa para prover às porcas abrigos ecológicos com chão coberto de casca de arroz onde os animais pudessem chafurdar. Dois anos depois, a Libertação Animal levou o programa “Uma questão atual” [“A Current Affair”] da rede de televisão NBN para a fazenda Boen Boe em Nova Gales do Sul. A história que então se contou atingiu o índice de quinta maior audiência anual do programa. Como consequência, a Sociedade Real para a Prevenção contra a Crueldade a Animais, [RSPCA ‒ Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals] finalmente processou com sucesso a empresa por manter porcas criadoras em gaiolas de gestação que causavam “estresse e sofrimento” aos animais, um precedente importante para a luta da organização.
Primeiramente uma investigação sigilosa um sit-in na fazenda Wasleys’ de Amanda Vanstone, política do Partido Liberal australiano e atual embaixatriz da Austrália na Itália, resultaram em quatro edições do programa “Hoje à Noite” [“Today Tonight”, do canal 7] em rede nacional e proporcionaram o conhecimento da realidade diária dos animais presos por toda uma existência em gaiolas individuais ou baias coletivas.
Neste momento, os suinocultores sabem que seu calcanhar de aquiles está exposto nas fotos recentemente registradas pelos três ativistas da Libertação Animal e, muito além de uma questão de direitos de propriedade sobre este material, este caso representa uma tentativa da suinocultura industrial de não revelar ao público as imagens que tanto se esforça por esconder. Em contrapartida, representa a esperança da Libertação Animal de, por meio da informação constante, aproximar-se cada vez mais do fim da suinocultura intensiva no estado de Nova Gales do Sul.
Mais informações: http://animal-lib.org.au