Grupos de ambientalistas estão propondo a organização de matanças de raposas e gralhas no Reino Unido para salvar o Maçarico, uma das aves mais famosas do país. A ideia ignora a raiz do problema e coloca a culpa nos animais que, assim como as aves, são vítimas do desequilíbrio ambiental causado pelo homem.
O maçarico, com seu bico curvado e gorjeio marcante, viu sua população declinar 60% nos últimos 25 anos. Ele é apenas um dos muitos pássaros que fazem seus ninhos no chão, estratégia que torna as espécies 86% mais propensa ao declínio populacional. O cerne da questão, no entanto, é complexo e aponta diretamente para a atividade humana.
Práticas agrícolas, como o uso de maquinário pesado para cortar grama para silagem, são parte do problema. Estas máquinas dizimam ovos e filhotes escondidos na vegetação. Além disso, a forma como os humanos gerem o campo britânico criou um boom populacional de raposas e gralhas. Séculos de caça levaram à extinção ou quase extinção de animais que naturalmente controlariam estas populações, como águias, linces e lobos.
Somado a isso, a agricultura fornece alimento abundante para estes animais, como restos de colheitas, insetos e pequenos animais. O ponto mais crítico é a liberação anual de milhões de faisões domesticados, criados para serem mortos em caçadas. Eles são fáceis de capturar e sustentam as raposas e gralhas.
Diante deste cenário criado pelo homem, a solução proposta por alguns é apontar a arma para a vítima errada. A amientalista Mary Colwell, embora afirme não ter coragem de atirar ela mesma, defende a matança de raposas. Ela e muitos outros dizem que, em um ecossistema já totalmente gerido pelo homem, matar predadores pode ser o preço a pagar para salvar aves ameaçadas.
Esta visão é antiética e ecologicamente pobre, tratando o sintoma enquanto ignora a doença. Como afirma categoricamente a Dra. Ruth Tingay, da campanha Wild Justice, “o controle letal de algumas espécies predadoras generalistas não resolverá a questão de longo prazo de sua superabundância, que é um resultado direto da má gestão do nosso campo”.
A verdadeira solução, portanto, não está na bala, mas na mudança de práticas. É necessário enfrentar os três principais problemas citados pela especialista: a agricultura intensiva, a liberação de milhões de faisões não nativos para caça e a perseguição de aves de rapina, que são predadores naturais de raposas e gralhas.
A vida de um animal não é moeda de troca. Raposas e gralhas não são “vilões”, apenas exploram um ambiente desequilibrado por nós. Eles têm o direito intrínseco de existir e não devem ser punidos com morte cruel pelos erros da humanidade.
Aceitar o abate como solução é um atestado de fracasso e uma admissão de preguiça intelectual. É mais fácil matar do que repensar nossa relação predatória com a natureza. Se queremos verdadeiramente salvar os maçaricos, devemos ter a coragem de restaurar o equilíbrio ecológico, e não recorrer ao expediente violenta e ineficaz de culpar e exterminar os animais que também tentam sobreviver em um mundo que lhes foi drasticamente alterado.