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I Festival do Cavalo Lusitano de Águas de Lindóia

4 de setembro de 2009
4 min. de leitura
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Diana no hay
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Exm.º Senhor Prefeito de Águas de Lindóia:

 
Excelência,
 
Acabei de saber que Águas de Lindóia está a ser palco do “I Festival do Cavalo Lusitano de Águas de Lindóia”, que, entre outros eventos, inclui uma prova e demonstração tauromáquica, designada de “Prova da Tourinha”, tal como é anunciado no programa deste evento, no site da Prefeitura que V. Ex.ª administra. É também anunciado neste site que o vencedor da dita prova “ganhará uma passagem aérea de ida e volta a Lisboa, com direito a ingresso para acompanhar uma tourada em Campo Pequeno, um dos mais importantes templos da modalidade na Europa”.
 
Devo, a este propósito, dizer a V. Ex.ª que, a chamar-se à praça de touros do Campo Pequeno “templo”, terá que se lhe acrescentar um outro termo – “tortura” –, uma vez que é isso que o Campo Pequeno é: um templo de tortura, onde, durante a época tauromáquica, quase todas as semanas entre 5 a 7 touros são vítimas de uma das mais horrendas formas de tortura, que é aquilo que a tauromaquia é na realidade. É exactamente por isto que em Portugal, onde o Campo Pequeno se situa, a tauromaquia está em aberto declínio, enfrentando uma cada vez maior e mais expressiva crítica social e cívica, à qual se tem acrescentado uma crítica política até oficial, sobretudo desde o início do ano corrente, quando a Câmara Municipal de Viana do Castelo declarou esta bela e importante capital nortenha a primeira “Cidade Anti-Touradas” de Portugal, tendo, subsequentemente, outros municípios portugueses tomado decisões semelhantes.
 
Em Portugal, de resto, até um tribunal considerou, no ano passado, as touradas espectáculos violentos, deseducativos e susceptíveis de influenciarem negativamente o desenvolvimento de crianças e adolescentes, tendo este ano as autoridades de protecção de menores impedido toureiros infantis de actuar em praças de touros portuguesas. Acresce que até grandes empresas, nacionais e multinacionais, se têm distanciado da tauromaquia e de qualquer relação comercial e ou publicitária com esta actividade aviltante, como foi o caso da Melka, da Ben & Jerry´s, da Carlsberg, e, entre outras, mais recentemente, da Ford. Na verdade, no ano passado, Julian Baust, o director executivo da KODAK no Reino Unido, ao afirmar a decisão da sua empresa de não ter qualquer relação com a tauromaquia, declarou: “A KODAK não aceita de modo algum a crueldade contra animais”.
 
Uma sondagem credível e insuspeita feita em Portugal pela Metris GfK revelou que 50,5% dos portugueses querem as touradas proibidas por lei em todo o território. E não é só em Portugal que as touradas estão, felizmente, a conhecer uma tal oposição e censura. Em Espanha, berço das touradas, em França e nos países da América Latina onde esta chocante forma de violência contra animais ainda é permitida, há cada vez sinais mais fortes que mostram como os seus povos e até as autoridades legislativas, governamentais e municipais destes países não permitirão que a tauromaquia subsista por muito mais tempo.
 
É neste contexto que o Brasil – um país a todos os títulos admirável e belo, além de ser exemplarmente rico na sua história e na sua actualidade em leis, organizações e iniciativas de protecção ambiental e animal – não pode, em circunstância alguma, ser manchado pelo sangue derramado pela macabra indústria tauromáquica. Para exemplo de todos os outros estados do mundo, o Brasil proíbe, desde 1988, na sua Constituição Federal, os maus tratos contra animais como crime ambiental – do que se segue que as touradas estão constitucionalmente proibidas no Brasil. Peço a V. Ex.ª que tenha em consideração esta mensagem, toda a informação que contém e todos os pontos que a mesma enuncia, retirando da mesma a conclusão de que a cidade de Águas de Lindóia só pode ter o interesse em afirmar-se amiga dos animais e defensora de uma ética da qual estes não devem nem podem estar excluídos.
 
Peço a V. Ex.ª que não permita que Águas de Lindóia seja instrumentalizada por uma indústria ávida de sangue que quererá exportar para o Brasil algo que, felizmente, cada vez menos consegue vender em Portugal, em Espanha e em França: as touradas.
 
Na esperança de que Águas de Lindóia não volte a ser palco da promoção da tauromaquia e nunca seja palco da sanguinária realização desta,
Apresento os meus melhores e mais respeitosos cumprimentos,
 
Diana Moreira
Lisboa, Portugal

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