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RETROCESSO

Decreto autoriza que animais de médio e grande porte abandonados sejam mortos em Serrinha (BA)

Os animais encontrados nas ruas poderão ser adotados por outras pessoas, no caso de equinos, ou mortos, no caso de bovinos, suínos, caprinos e ovinos

4 de fevereiro de 2025
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

A Prefeitura de Serrinha, na Bahia, deu um passo alarmante e regressivo ao publicar um decreto que autoriza o assassinato de animais de grande e médio porte encontrados soltos ou abandonados nas vias públicas. A medida, que inclui bois, cavalos, porcos, ovelhas e cabras, permite que esses animais sejam mortos caso os responsáveis não procurem por eles em até sete dias. Desde o início, o decreto revela uma profunda falta de empatia e respeito pela vida animal, tratando seres sencientes como meros objetos descartáveis.

A justificativa apresentada pela gestão municipal é frágil e insuficiente. Alegar que o aumento do número de animais soltos, o risco de acidentes de trânsito e os danos a espaços públicos justificam matá-los é ignorar completamente a responsabilidade humana pelo problema.

O abandono de animais é uma questão social complexa, que exige políticas públicas educativas e preventivas, não medidas punitivas que culminam na morte de inocentes. Além disso, a prefeitura não oferece alternativas éticas, como a criação de abrigos ou parcerias com santuários, optando pela solução mais fácil e violenta: o extermínio.

O decreto é ainda mais chocante ao estabelecer que os animais apreendidos poderão ser adotados por outras pessoas, no caso de equinos, ou mortos, no caso de bovinos, suínos, caprinos e ovinos. Essa distinção entre espécies é arbitrária e reflete uma visão especista, que atribui valor diferente à vida dos animais com base em sua utilidade para os humanos.

Enquanto equinos são considerados “passíveis de adoção”, os demais são condenados à morte, como se suas vidas não tivessem o mesmo valor. A carne dos animais abatidos será destinada a entidades públicas, o que apenas reforça a exploração institucionalizada desses animais, transformando sua morte em um suposto “benefício” para a sociedade.

A multa imposta aos tutores que não resgatarem seus animais no prazo estipulado, variando entre 500 3 mil reais, é outra falha grave do decreto. Em vez de resolver o problema, essa medida transfere a responsabilidade pelo abandono para os animais, que pagam com a vida pela negligência humana.

Outra regra ainda determina que, após três apreensões, o tutor perde o direito de resgatar o animal, condenando-o automaticamente à morte. A política não só falha em proteger os animais, como também os pune de forma irreversível por falhas que não são suas.

A Prefeitura de Serrinha ignora completamente o fato de que os animais são seres sencientes, capazes de sentir dor, medo e sofrimento. Ao optar pela morte, a gestão municipal legitima e normaliza a violência contra eles, perpetuando uma cultura de exploração e descarte. Em vez de investir em políticas públicas que promovam a conscientização sobre posse responsável, castração e identificação de animais, a prefeitura escolhe o caminho mais cruel e desumano.

A decisão de matar animais abandonados é um retrocesso ético e moral, que coloca Serrinha na contramão de uma sociedade que, cada vez mais, reconhece a importância de proteger e respeitar os direitos animais. Enquanto governos ao redor do mundo avançam na criação de leis que garantem o bem-estar animal, a Prefeitura de Serrinha opta por uma política que desvaloriza a vida e reforça a ideia de que os animais existem apenas para servir aos interesses humanos. Essa medida não resolve o problema do abandono; ela apenas o torna mais cruel e insustentável.

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