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HABITATS DESTRUÍDOS

De puma a sapo-cururu: em um ano, mais de mil animais entraram em área urbana no RJ

19 de junho de 2022
6 min. de leitura
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Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Um puma jovem desidratado flagrado em um galinheiro. Um filhote de gato-do-mato salvo da morte após ser encurralado por cachorros. Um sapo-cururu vítima de um atropelamento. Um ouriço que perdeu parte da cauda . As histórias desses quatro animais e de outros de 1.130, todos resgatados de áreas urbanas do estado do Rio de Janeiro, em sua maior parte entre janeiro e junho de 2022, estão concentradas atualmente em um único lugar: o Centro de Referência de Animais Silvestres (Cras) da Universidade Estácio, em Vargem Pequena, também na Zona Oeste.

É para lá que boa parte dos animais que deixam o habitat e acabam entrando acidentalmente em áreas urbanas por algum motivo (dispersão do bando ou procura de alimento, por exemplo) é levada após ser resgatada por órgãos ambientais, quando há algum ferimento ou necessidade de algum tipo de cuidado. Quem consegue se recuperar (caso da grande maioria) é devolvido à natureza. Atualmente, dos mais de mil que deram entrada este ano, 60 continuam internados. Um deles é um puma, encontrado em fevereiro, próximo à região de Sana, em Macaé, no Norte Fluminense. Desidratado, ele saiu da área de florestas e invadiu um sítio para se alimentar de galinhas. Depois que algumas aves sumiram, o proprietário montou uma armadilha e o felino foi capturado.

“A mulher do sitiante pediu que órgãos ambientais fossem notificados. Ele foi anestesiado e veio para o Cras. Encontramos o animal magro, repleto de carrapatos e bernes. Recuperamos o estado de saúde dele. Chegou aqui com 24 quilos apenas e agora está com 32. O puma será reintroduzido à natureza em breve, estamos já na fase final dos exames”, disse Jeferson Pires, médico-veterinário e responsável pelo Cras, acrescentando que todo trabalho de reintrodução e resgate é feito em parceria com órgãos como Instituto Estadual de Floresta (Inea) e patrulhas ou guardas ambientais.

Para se recuperar, o puma passou por exames e por uma superalimentação feita a base de coração bovino, carne de coelho e pequenos roedores. Todas refeições feitas de animais já mortos. Resgatado em dezembro, o filhote de gato-do-mato foi encontrado cercado por cães, em uma estrada fora do Parque Ambiental de Macaé. Ele deverá ser levado para uma área que será destinada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) .

“Nosso objetivo é o de sempre: devolver o animal à vida livre. E também que eles não fiquem mansos e nem se apeguem às pessoas. Não se coloca nome em nenhum deles para não ser criada nenhuma relação afetiva. O gato-do-mato veio muito debilitado e não teve tempo de conviver com a mãe que teria de o ensinar a caçar. Ele será levado para o Ibama que vai destinar uma área para ficar, já que não conseguiria sobreviver sozinho na natureza”, disse Jeferson Pires.

Há também casos de quem lutou muito para sobreviver. E que está próximo de alcançar uma nova vitória. Animal há mais tempo internado no Cras, o sapo-cururu deu entrada no dia 4 de novembro de 2020. Vítima de atropelamento, na Barra da Tijuca, ele sofreu hemorragia no pulmão e lesão na coluna.

Passou por tratamento e se recuperou. Estava quase pronto para ser reintroduzido à natureza quando os veterinários descobriram que ele precisava de um pouco mais de carinho e cuidado. É que uma catarata foi descoberta em um dos olhos do batráquio . Ele será operado, e após a recuperação da cirurgia deverá ser reintroduzido à natureza.

“Ele está totalmente recuperado do atropelamento e será operado de catarata. Logo depois, será devolvido novamente para natureza”, disse o responsável pelo Cras.

Há ainda outras histórias como a de uma ave jacupemba (ou simplesmente jacu) que bateu contra uma janela de uma residência, ao sobrevoar uma área de Campo Grande, na Zona Oeste. E ainda a de uma coruja Murucututu que sofreu um ferimento em uma das asas, produzido por um arame farpado também em Campo Grande.

“A jacupemba chegou muito tonta e recebeu medicamentos para reduzir o risco de possíveis lesões cerebrais. Ela já está bem e deve ser solta nos próximos dias pela patrulha ambiental. A coruja veio com um arame farpado preso na asa e precisou ter o local saturado. Está passando por um tratamento à base de antibióticos e vai ser solta em breve”, disse Pires.

Existem ainda os que estão em observação. Resgatado no dia 16 de maio último, em uma rua do Leblon, na Zona Sul, um ouriço aguarda a evolução do tratamento para saber se poderá voltar ao habitat.

“Ainda estamos avaliando o ferimento na cauda. Estamos aguardando a cicatrização já que ele depende muito da cauda para manter o equilíbrio e se segurar nos galhos”, explicou o veterinário.

A média anual de animais que passam pelo Cras de Vargem Pequena chega a casa de 3,6 mil. Do Norte Fluminense, do Sul Fluminense e da Região Serrana costumam chegar felinos como pumas, jaguatiricas, onças e gatos-do-mato. Da Zona Oeste do Rio, os mais encaminhados são gambás e gaviões. Eventualmente, também vem da mesma região tamanduás, cachorros-do-mato e até lontras. Das Zonas Norte e Sul, a maior frequência recebida é a de gambás. Já as cobras, como jiboias, são encaminhadas de todas as regiões do Rio de Janeiro.

Para cuidar diariamente dos animais, o Cras conta com três veterinários e cerca de 80 estagiários de veterinária A estimativa é a de que sejam consumidos na alimentação dos animais, em média por ano, uma tonelada de ração, duas toneladas de frutas e uma tonelada de carne. Fora o consumo de medicamentos. Jeferson Pires recomendou que, em casos de surgimento de um animal silvestre em áreas urbanas, o ideal é que a população não incomode o animal. E que, em seguida, chame o resgate de uma patrulha ambiental ou algum órgão ligado ao meio ambiente.

“O ideal é deixar o animal ir embora sozinho e evitar contato. Se isto não acontecer, é melhor ligar e chamar a patrulha ambiental ou algum tipo de resgate”, concluiu.

Procurada, a Prefeitura do Rio informou que a Patrulha Ambiental do município pode ser acionada para resgatar animais silvestres, em qualquer área da cidade, durante todos os dias da semana. Para isso, basta telefonar para o 1746. De janeiro a junho, 1171 animais foram resgatados pela patrulha. Deste total, apenas 5% não resistiu e morreu. No ranking dos mais resgatados estão os gambás em primeiro lugar, com 651 indivíduos, seguidos das maritacas (57) e das cobras (52). Boa parte dos animais que precisam de cuidados é levada pela patrulha para o Cras de Vargem Pequena.

Fonte: Extra

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