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SAÚDE

De cães e gatos a peixes e porcos: animais estão desenvolvendo as mesmas doenças crônicas que os humanos, revela estudo

Novo estudo propõe um modelo unificado que relaciona essas condições em diferentes espécies

20 de novembro de 2025
Renata Turbiani
4 min. de leitura
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Foto: GK Hart/Vikki Hart/Getty Images

A lista de animais acometidos por doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) cresce em ritmo rápido. De cães e gatos vivendo em apartamentos urbanos a porcos criados em larga escala, passando por tartarugas, baleias e peixes, casos de câncer, diabetes, obesidade e doenças articulares degenerativas se multiplicam em diferentes partes do mundo.

Um estudo publicado na revista Risk Analysis apresenta uma nova abordagem conceitual destinada a aprimorar o monitoramento e o manejo dessas condições em animais. Trata-se de um modelo de avaliação de riscobaseado em evidências, e isso, segundo os envolvidos, beneficia tanto a saúde veterinária quanto fornece informações relevantes para a saúde pública, visto que humanos e animais estão vivenciando aumentos semelhantes na incidência de doenças crônicas.

Ele combina as abordagens de Saúde Única e Eco-saúde, ambas enfatizando as conexões entre o bem-estar humano, animal e ambiental, e demonstra como a predisposição genética se cruza com as pressões ambientais e socioecológicas, impulsionando o desenvolvimento de doenças.

Os pesquisadores envolvidos analisaram estudos existentes sobre DCNT em diversas espécies. Eles constaram que a predisposição genética aumenta o risco de doenças em certas populações. Por exemplo, cães e gatos que foram criados seletivamente para determinadas características físicas, assim como animais criados para a indústria da carne, apresentam taxas mais elevadas de doenças como diabetes e insuficiência mitral.

Fatores ambientais, incluindo má alimentação, atividade física limitada e estresse prolongado, também influenciam como e quando essas doenças aparecem. A obesidade é generalizada entre gatos e cães domésticos, com pesquisas recentes estimando que 50 a 60% se enquadram na categoria de sobrepeso, o que tem contribuído para o aumento anual de casos de diabetes felina. Em áreas agrícolas, cerca de 20% dos porcos criados intensivamente desenvolvem osteoartrite.

Animais marinhos enfrentam desafios semelhantes: baleias beluga apresentam casos documentados de câncer gastrointestinal, enquanto salmões do Atlântico criados em cativeiro sofrem de síndrome da cardiomiopatia. Animais selvagens que vivem em estuários poluídos e contaminados com produtos químicos industriais, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs) e bifenilos policlorados (PCBs), apresentam altas taxas de tumores hepáticos.

Segundo o estudo, a transformação ecológica impulsionada pelo homem está amplificando essas ameaças. A urbanização, as mudanças climáticas, a conversão de terras e a perda de biodiversidade aumentam a frequência e a gravidade das exposições nocivas. O aquecimento dos oceanos e o declínio dos ecossistemas de corais estão correlacionados com taxas mais elevadas de tumores em tartarugas marinhas e peixes.

Nas cidades, o aumento das temperaturas e a má qualidade do ar contribuem para obesidade, diabetes e doenças autoimunes em animais de companhia, enquanto o escoamento de produtos químicos e a poluição atmosférica influenciam a função endócrina em aves e mamíferos.

“À medida que as mudanças ambientais aceleram o surgimento de doenças, a ausência de sistemas de diagnóstico precoce atrasa ainda mais a detecção de DCNT em animais”, disse a líder da pesquisa, a zootecnista Antonia Mataragka, da Universidade Agrícola de Atenas, da Grécia.

Ela finalizou: “Embora organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS) forneçam dados abrangentes sobre a mortalidade por DCNT em humanos, estatísticas detalhadas semelhantes para animais são escassas. Isso indica a necessidade de pesquisas mais abrangentes e de uma vigilância aprimorada na saúde veterinária para melhor compreender e abordar essas questões”.

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