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De anúncio da Copa de 94 a McDonalds: ninho construído há 30 anos foi feito com lixo humano

19 de março de 2025
POLUIÇÃO
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Foto: Auke-Florian Hiemstra/Reprodução

Um pesquisador da Universidade de Leiden, na Holanda, encontrou um ninho em Amsterdã que serve como uma verdadeira máquina do tempo do lixo humano. Ele foi construído há 30 anos e conta com 635 pedaços de plástico, reunindo algumas raridades – como uma embalagem de doce com um anúncio da Copa do Mundo de 1994 e o invólucro de um McChicken, sanduíche do McDonalds, consumido em 1996, por exemplo.

O ninho pertence à uma espécie conhecida como galeirão-comum (Fulica atra). Essas aves pesam mais ou menos 1 kg, tem uma plumagem preta e bico branco e podem ser encontradas com facilidade vivendo longo de canais em Amsterdã, na Holanda.

Como os outros pássaros, elas têm o hábito construir suas casas todos os anos, usando materiais naturais, como galhos e folhas. Mas, em ambientes urbanos, onde o material por vezes é mais escasso, qualquer coisa que estiver ao alcance do bico pode virar matéria-prima.

É o caso do ninho encontrado no canal de Rokin, uma área movimentada localizada no centro da capital holandesa. Ele foi construído em cima de uma velha estaca, abaixo de uma área de doca, e chamou a atenção em meio aos 15 ninhos coletados por cientistas holandeses ao final da temporada procriação das aves, em novembro de 2021.

“Você folheia esses ninhos como se fossem páginas de um livro de história, descobrindo o passado”, disse em comunicado Auke-Florian Hiemstra, doutorando da Universidade de Leiden e especialista em ninhos que assina a descoberta. “A camada mais antiga é tão velha quanto eu – durante toda a minha vida, um pássaro fez ninho aqui”. Um estudo que detalha a investigação dos materiais que compõem o ninho de plástico foi publicado na revista científica Ecology.

O galeirão-comum costuma viver entre 5 e 10 anos. Então, acredita-se que pelo menos três gerações diferentes da espécie possam ter usado o ninho-cápsula-do-tempo. As estimativas são de que, nesse período, o ninho tenha sido usado para receber filhotes em pelo menos 10 ocasiões diferentes.

Se estava sendo usado por diferentes famílias, o ninho estava sendo constantemente aprimorado, ganhando novas camadas. Isso significa que ele não é feito apenas de material antigo. As partes mais recentes das paredes envolvem, por exemplo, 15 máscaras faciais de plástico relativamente novas – um resultado da pandemia de Covid-19.

Apesar de serem uma solução criativa, o plástico não é um material adequado a esse tipo de engenharia, podendo prejudicar a integridade dos pássaros. Em um post na rede social BlueSky, Heimstra pontua que as máscaras, inclusive, podem ser nocivas para o galeirão-comum, “ficando presas em suas patas”.

É possível encontrar, também, embalagens de molhos recentes de fast food. Não é à toa: o local onde o ninho foi encontrado fica próximo a uma unidade do McDonalds, que parece ter servido como uma boa fonte de matéria-prima para os pássaros do local ao longo das últimas décadas.

A máquina do tempo em forma de ninho, agora faz parte da coleção do Museon-Omniversum em Haia, na Holanda. Ela será incluída em um pedaço da exposição que fala sobre o Antropoceno – a era geológica atual, em que humanos tomaram conta da Terra. Não poderia existir um retrato mais preciso de como a expansão do Homo sapiens afeta o planeta, não é mesmo?

Fonte: Um Só Planeta

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