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LEVANTAMENTO

Datafolha: 97% dos brasileiros percebem mudanças climáticas no próprio cotidiano

Maioria dos entrevistados (77%) afirma que a crise no clima é causada principalmente pelas ações humanas. Um terço das pessoas, porém, diz que cientistas e ambientalistas exageram

2 de julho de 2024
Redação Um Só Planeta
5 min. de leitura
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Mulher com cachorro no colo durante as enchentes devastadores em maio no Rio Grande do Sul. — Foto: Carlos Macedo/Bloomberg via Getty Images

Nova pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (1) aponta que 97% dos brasileiros percebem no dia a dia que o planeta está passando por mudanças climáticas. Essa noção é praticamente igual entre homens e mulheres e nos diferentes graus de escolaridade e faixas etárias.

Pelos resultados, apenas 2% das pessoas negam a existência das alterações no clima e 1% não souberam responder. O levantamento foi realizado entre 17 e 22 de junho com 2.457 participantes de 16 anos ou mais em 130 municípios brasileiros.

Quando foi pedida a opinião dos entrevistados sobre as mudanças climáticas, 77% disseram que elas existem e são causadas principalmente pelas ações humanas; 20% que existem e são causadas pela oscilação da temperatura que faz parte da natureza e 2% afirmaram que não existem e 1% não soube.

Na separação por grau de escolaridade, 87% dos com ensino superior acreditam que as mudanças climáticas são causadas pela humanidade, 13% que elas fazem parte da natureza e 1% que não existem, Entre os com nível fundamental, esses índices são 67%, 26% e 4%, respectivamente, e, entre os com nível médio, 78%, 20%, 1%.

As pessoas que participaram da pesquisa também responderam se, nas últimas semanas, o lugar onde moram passou por algum problema relacionado ao clima. Neste caso, 77% relataram que sim, sendo que 65% vivenciaram calor extremo, 33% chuva intensa ou tempestade, 29% situação de seca extrema, 20% enchente ou alagamento e 7% deslizamento de terra. Cerca de um quarto dos respondentes (23%) afirmou não ter vivenciado nenhum destes eventos recentemente.

Em entrevista para a Folha de S. Paulo, Paulo Artaxo, professor de física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), disse que no mundo inteiro a população está percebendo que o clima mudou para pior.

“As mudanças climáticas se dão em dois níveis. Primeiro, um lento e gradual: degradação ambiental com o aumento lento da temperatura, redução ou aumento lento da precipitação, aumento do nível do mar que afeta as áreas costeiras e assim por diante”, explicou. “Um segundo componente é a intensificação dos eventos climáticos extremos, que cada vez mais se tornam muito perceptíveis para a população em geral, causando enormes danos na saúde, na economia e na sociedade em geral.”

Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, complementou: “As pessoas não precisam mais procurar um relatório científico para se informar. Elas abrem a janela de casa, ligam a televisão e as mudanças climáticas estão acontecendo – não são mais uma previsão, são o presente. Isso, obviamente, faz com que as pessoas tenham mais capacidade de compreender o que está acontecendo”.

Crença ou descrença nos ambientalista

Outro dado que chama a atenção na pesquisa Datafolha é que uma parcela considerável (31%) indicou que os cientistas e ambientalistas exageram sobre os impactos das mudanças climáticas. A maioria (67%), no entanto, disse que eles não exageram.

As mais altas taxas de descrença foram relatadas entre as pessoas com menos educação formal e entre os mais velhos. Em relação à escolaridade, das que estudaram até o ensino fundamental, 43% falaram que há exagero e 52% que não. Das com ensino médio, 28% e 71% e, das com ensino superior, 17% e 80%.

No quesito idade, 36% dos entrevistados com 60 anos ou mais, afirmaram que cientistas e ambientalistas exageram e 52% que eles não exageram. Na faixa etária de 45 a 59 anos, esses meses índices foram de 33% e 65%. O nível mais alto de confiança nos especialistas se dá entre os mais jovens: 77% dos que têm entre 16 e 24 anos disseram que não há exagero a respeito do tema e 21% disseram que há.

Mercedes Bustamante, professora do departamento de ecologia da Universidade de Brasília (UnB), observou que é esperado que os mais jovens e os com mais acesso à informação mostrem maior concordância com as avaliações científicas.

“Os mais velhos têm a memória de condições mais estáveis e se formaram em um ambiente onde o tema não estava tão difundido, estudado ou documentado”, completou ela.

Fonte: Um Só Planeta

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